terça-feira, 11 de junho de 2019

Machado de Assis: uma identidade ocultada

Hoje nós vamos falar sobre o Bruxo do Cosme Velho, mais conhecido como Machado de Assis. Autor de grandes clássicos como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, é considerado o maior nome da história da literatura brasileira. Machado era jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo. Mas o que poucos sabem é que ele era negro. Ficou espantado? Calma, a gente vai te explicar isso.

Projeto Machado de Assis real

Seu pai era afrodescendente e sua mãe branca era portuguesa. Machado de Assis nasceu em 1839, seus avós eram alforriados e seu pai era um homem livre. Mesmo sendo um gênio da literatura, ele fez parte do racismo estrutural que persiste em apagar pessoas históricas importantes devido à cor da sua pele.
O embranquecimento dado a Machado de Assis ao longo da sua história contribui para uma comunidade negra sem referências. Todas as suas imagens antigas o retratam como um homem branco. Inclusive, em seu certificado de óbito ele é classificado como “branco”. Sua máscara mortuária modelada no mesmo dia da sua morte revela os seus traços africanos. Hoje, ela está no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Máscara mortuária de Machado de Assis – Reprodução / Arquivo

No entanto, o pesquisador Felipe Rissato encontrou um exemplar da revista argentina “Caras y Caretas” de janeiro de 1908, em que é possível ver Machado de pé em um jardim, com as mãos na cintura. A fotografia revela seus traços negros nunca antes tão evidentes.

Machado de Assis – Agência O Globo

E não para por aí! Um registro feito na década de 1950 pelos irmãos Bernadelli para o livro “Machado de Assis desconhecido” de Raimundo Magalhães, revela um Machado de pele mais escura e “sem retoques” como era retratado durante toda a história.

Machado “sem retoques” em foto tirada no ateliê dos irmãos Bernardelli – Domínio Público / Reprodução

Então, por que negar a identidade de alguém tão importante ao seu povo? Pensando em dar mais visibilidade à verdadeira face da história, a Faculdade Zumbi do Palmares e a agência Grey Brasil uniram-se no movimento Machado de Assis Real para não só corrigir o passado como também mudar o futuro. Afinal, é preciso que as futuras gerações saibam que existiram, sim, grandes gênios da literatura que eram negros a fim de reparar o racismo institucional carregado durante anos.
O projeto conseguiu colocar a imagem do escritor negro dentro da Academia Brasileira de Letras. Pra quem não sabe, a instituição foi fundada pelo próprio Machado de Assis, que só o exibia como um homem branco. Também há um abaixo-assinado para que as editoras e livrarias parem de imprimir, publicar e comercializar livros em que o escritor apareça embranquecido e substitua a imagem preconceituosa pela foto de Machado de Assis real.

Referências


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