Quando o homem negro é visto de fato como homem e que poderia se beneficiar de “privilégios” devido a essa condição, logo, em outra face, ele é visto como negro e as barreiras do racismo o impedem de desempenhar papéis de relevância na sociedade.
O etnólogo Carlos Moore diz que “sua função central, desde o início, seria regular os modos de acesso aos recursos da sociedade de maneira racialmente seletiva em função do fenótipo”. Dessa forma, a imagem do homem negro é enfraquecida, restando a ele status de homem sem tantos poderes de homem.
Masculinidade hegemônica
Como falamos no texto anterior, a figura do homem negro é retratada de maneira hipersexualizada, subalternizada ou violenta, vista para mão de obra ou procriação. E onde fica a masculinidade x humanidade desse homem? Destituem-se os seus prestígios levando-os socialmente a homens emasculados.
Se por um lado ele é visto através de uma representação de masculinidade viril e colocando em ênfase apenas a sua capacidade física e não afetiva, humana e intelectual, por outro lado é criado um ressentimento por parte de homens brancos que veem a sua hombridade ameaçada.
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O pênis é entendido como símbolo de poder, recursos, prestígios, status e acesso. Logo, essa obsessão por retratar o negro como macrofálico é um fetiche. O psiquiatra e militante Frantz Fanon diz que “o preto representa o perigo biológico… Ter a fobia do preto é ter medo do biológico. Pois o preto não passa do biológico. É um animal”.
Sendo a masculinidade social um grande rival do homem branco faz sentido que os estereótipos e estigmas atribuídos ao homem negro pela indústria cultural midiática brasileira sejam sempre o de bandido, moleque, bêbado, vagabundo, estuprador, entre outros.
Para que a masculinidade hegemônica seja um símbolo de masculinidade prezada pela sociedade, ela busca subtrair das subalternas para monopolizar o seu status quo. Sendo assim, a figura de um homem negro companheiro, maduro, autônomo, inteligente, pai e amigo, íntegro, responsável, dono de si existe, mas é representado o menos possível.
O antropólogo Rolf de Souza e especialista em estudos sobre masculinidade diz que: “As representações de homens negros e brancos fazem com que estes dois grupos se coloquem em posição antagônica pela disputa pelo prestígio da masculinidade e que, devido a esse embate, um homem negro que fica no caminho do homem branco da sua mission civilisatrice precisa ser desencorajado e, se necessário, eliminado fisicamente”.
Negro e bixa
Ser negro e bixa é um tabu dentro da masculinidade negra. Há preconceito por ser negro e por ser gay. O estereótipo em volta do homem negro e o machismo enraizado em nossa sociedade cria um padrão heteronormativo para aqueles que não se encaixam dentro dessas premissas.
Foto: Divulgação |
Um filme que retrata bem as relações
opressivas vividas por negros gays é o Moonlight (Sob a Luz
do Luar). Diversas camadas são criadas diante do negro bixa que queira
expressar sua sexualidade, exercer suas potencialidades e desejos. O que lhe
resta muitas vezes é o caminho da solidão.
Também abordamos essa temática com o
coletivo de bixas negras Afrobixas. Para assistir, é só clicar aqui.
Quebrando
paradigmas
Embora sejam criados diversos estereótipos
sobre a masculinidade negra, existem muitos homens negros espalhados pelo
Brasil que não se enquadram nesse círculo vicioso atribuído pela branquitude.
Que mais e mais homens negros continuem a
construir suas famílias, ocupar mais lugares, reafirmar suas lutas contra o
racismo, machismo e patriarcado, sejam como pais, filhos, irmão, maridos,
namorados ou amigos.
Se estamos divididos, caímos e cooperamos
em um estado de dominação da branquitude. Juntos nós permanecemos fortes e
unidos.
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