As primeiras relações afetivas, sociais e de fortalecimento de laços de uma criança estão na família. É através dessas relações que se constroem a sua identidade, uma vivência de aprendizados e ensinamentos diários tanto para os filhos quanto para os próprios pais.
O homem negro é visto muitas vezes de maneira subalternizada, hipersexualizada ou violenta. Durante o período escravocrata, o homem negro tinha sua imagem relacionada à força, mão de obra e procriação, sendo este último estimulado para que pudesse gerar ainda mais mão de obra para os seus senhores.
Quando imaginamos a figura de um pai presente, companheiro e que cuida dos filhos, a primeira imagem que vem em nossa mente é a de um homem branco. Afinal, é o que consumimos na TV, revistas, jornais e através da publicidade em si. Ao homem negro foi negada essa posição social, olhar humano e capacidade afetiva.
Masculinidade e humanidade
Se interligarmos a masculinidade e humanidade em uma outra perspectiva, quando o homem é representado não pelo gênero, mas no sentido de sua masculinidade torná-lo humano, entendemos o que Paul Gilroy quis expressar sobre quando o homem “perde” a sua masculinidade, ele também perde a sua humanidade.
Em seu clássico O Atlântico negro, Gilroy fala sobre um confronto físico retirado da biografia de Frederick Douglass, sobre um homem escravizado, o próprio Douglass, e seu ex-senhor, Covey. Esse confronto gera a seguinte reflexão:
“Eu não era nada antes; agora eu era um homem. Ela [a briga] trouxe de volta à vida meu respeito próprio e minha autoconfiança esmagados, e me inspirou com uma determinação renovada de ser um homem livre. Um homem sem força está sem a dignidade fundamental da humanidade… Eu não era mais um covarde servil, tremendo sob a carranca de um verme irmão de poeira, mas meu espírito havia muito acovardado foi despertado para uma atitude de máscula independência. Eu havia alcançado um ponto no qual não tinha medo de morrer.” (DOUGLASS, apud, GILROY, 2001, p. 139, grifo nosso).
Douglass consegue sua liberdade através desta luta. Apesar das especificidades da escravidão, confrontos físicos e intelectuais, principalmente aqueles nos quais a liberdade está em jogo, são situações particulares de afirmação masculina e humana. A paternidade é uma delas: um confronto consigo mesmo.
Em uma entrevista ao portal GQ, Lázaro Ramos fala sobre os confrontos de uma paternidade presente:
“O mundo, pro pai ativo, oferece alguns desafios. É um lugar cercado de medos. Depois que eu virei pai eu tenho medo de viajar de avião, de ser mau exemplo, de errar por excesso, de não enxergar alguma coisa. Às vezes cansa também porque a gente tem que estar atento o tempo todo. Tem um cansaço físico e mental, que é preciso falar também pra gente não entrar num formato de paternidade ideal.”
Paternidade negra
É preciso estar atento sobre como a paternidade negra é colocada pela sociedade. O enfraquecimento de sua imagem e da desorganização familiar é uma das estratégias para a subalternização dos negros.
O AfroPai, podcast sobre paternidade negra, aborda vários temas que trazem diversas expectativas, angústias e medos sobre ser pai. Aqui, ele fala sobre o dia dos pais e como essa experiência muda completamente a vida.
Os pais negros enfrentam diversos desafios. É preciso ensinar aos filhos que o racismo, o machismo e a desigualdade social não cabem em uma sociedade democrática. Ser pai negro é militância diária! É quebra de paradigmas. É reconhecer erros e aprender com eles. É fortalecer seus filhos e prepará-los para um mundo opressor e intolerante. É apresentá-los a sua ancestralidade. É trabalhar o empoderamento e construção de autoestima desde cedo. É poder ressignificar a sua existência como homem negro e pai.
Referências
GQ
AfroPai
Geledés
Medium
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