Manifestamos a dança para nos divertir, comemorar, como parte de rituais, terapia ou nos conectar entre o terreno e o divino. O conceito da dança vai muito além da movimentação do corpo. Em algumas culturas ela pode ser parte dos costumes de um povo de forma indispensável.
Com o objetivo de não perder a sua identidade cultural, durante a diáspora africana os corpo negros aqui trazidos carregavam consigo as suas danças e rituais performáticos. Essa memória corporal, fosse para performances ritualísticas ou cerimoniais, possuía um significado que buscava conexão entre suas tradições e entre os mundos interior e exterior, real e espiritual.
Os corpos negros contam suas histórias e trazem sua ancestralidade
através dos movimentos e possuem consciência da sua existência marcada pela
dominação racial. Seus movimentos vão muito além do samba e capoeira. São
corpos pensantes! Ainda que calemos, o nosso corpo fala, reage e manifesta
nossos desejos. O corpo negro é encontro e templo para aqueles que buscam, através
da dança, expressar seus valores culturais ancestrais africanos.
No entanto, o corpo negro ainda é visto de forma preconceituosa e está
sempre associado à criminalidade e/ou hipersexualização. O Coletivo DMV22 criou o espetáculo “Movimento I,
Parado é Suspeito” a partir da frase racista “Negro parado é suspeito, negro
correndo é ladrão” justamente para questionar os lugares dos sujeitos de origem
na diáspora africana ter a cor da sua pele como critério de ameaça.
Em entrevista ao Correio
Nagô, o ator e coreógrafo Mário Lopes
fala que o trabalho parte das sonoridades do passado, que continuam a gritar no
presente. “Mais do que trazer soluções, a ideia é questionar, refletir com o
público e compartilhar as marcas, os traumas, os nós, os traumas que essa
abordagem policial causou e causa nos corpos dos jovens negros no Brasil”.
Completa dizendo que “é a possibilidade de desatar esses nós, de trabalhar esse
trauma e construir um estado de um corpo empoderado, que possa se deslocar em
qualquer lugar, com dignidade, em qualquer lugar do mundo”.
Em uma entrevista para a Webtv da Universidade
do Estado da Bahia (Uneb), Lindete
Souza traz uma reflexão sobre o racismo presente na dança clássica e também
fala sobre o bailarino Luiz Bokanha
Existem poucos estudos que visam entender e analisar a dança com
elementos afro-brasileiros, seu simbolismo e os profissionais que contribuem
para a valorização dessa arte. Quando um corpo negro dança, ele passa uma
mensagem política. A artista Gal Martins, que foi curadora da mostra “Corpo
político – o rasgar do tempo e do espaço”, enfatiza que a dança contemporânea negra e de raiz africana é sempre
vista como algo acessório ou lúdico quando se propõe um debate sobre racismo,
ativismo negro e ação política.
Segundo ela “um espetáculo de dança tem a capacidade de comunicar muita
coisa, de criar um canal de diálogo único com quem assiste. Corpos negros
dançando em um palco, seja dança contemporânea ou tradicional, significam muita
coisa, não é uma ‘mensagem mais branda’ ou ‘mais bonita’, a carga expressiva é
imensa”.
O corpo negro é um corpo coletivo. Ele revela isso quando expressa
através da dança sua identidade, poder, linguagem e reflexão. É dada uma
invisibilidade a esse corpo que mostra através de movimentos a sua trajetória
de lutas e resistência.
Referências
Agenda da Periferia
Fazendo Gênero
Geledés
Agenda da Periferia
Fazendo Gênero
Geledés
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