quarta-feira, 11 de setembro de 2019

O corpo negro e suas relações de manifestação através da dança

A dança pode ser considerada um conjunto de expressões e o homem a usa para expressar seus sentimentos, valores culturais ou ansiedades. Seus movimentos podem ser ritmados ou não, utilizando força, espaço e tempo.
Manifestamos a dança para nos divertir, comemorar, como parte de rituais, terapia ou nos conectar entre o terreno e o divino. O conceito da dança vai muito além da movimentação do corpo. Em algumas culturas ela pode ser parte dos costumes de um povo de forma indispensável.
Com o objetivo de não perder a sua identidade cultural, durante a diáspora africana os corpo negros aqui trazidos carregavam consigo as suas danças e rituais performáticos. Essa memória corporal, fosse para performances ritualísticas ou cerimoniais, possuía um significado que buscava conexão entre suas tradições e entre os mundos interior e exterior, real e espiritual.

Foto retirada do site Metrópoles


Os corpos negros contam suas histórias e trazem sua ancestralidade através dos movimentos e possuem consciência da sua existência marcada pela dominação racial. Seus movimentos vão muito além do samba e capoeira. São corpos pensantes! Ainda que calemos, o nosso corpo fala, reage e manifesta nossos desejos. O corpo negro é encontro e templo para aqueles que buscam, através da dança, expressar seus valores culturais ancestrais africanos.
No entanto, o corpo negro ainda é visto de forma preconceituosa e está sempre associado à criminalidade e/ou hipersexualização. O Coletivo DMV22 criou o espetáculo “Movimento I, Parado é Suspeito” a partir da frase racista “Negro parado é suspeito, negro correndo é ladrão” justamente para questionar os lugares dos sujeitos de origem na diáspora africana ter a cor da sua pele como critério de ameaça.
Em entrevista ao Correio Nagô, o ator e coreógrafo Mário Lopes fala que o trabalho parte das sonoridades do passado, que continuam a gritar no presente. “Mais do que trazer soluções, a ideia é questionar, refletir com o público e compartilhar as marcas, os traumas, os nós, os traumas que essa abordagem policial causou e causa nos corpos dos jovens negros no Brasil”. Completa dizendo que “é a possibilidade de desatar esses nós, de trabalhar esse trauma e construir um estado de um corpo empoderado, que possa se deslocar em qualquer lugar, com dignidade, em qualquer lugar do mundo”.

Foto retirada do site Correio Nagô
 

Em uma entrevista para a Webtv da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Lindete Souza traz uma reflexão sobre o racismo presente na dança clássica e também fala sobre o bailarino Luiz Bokanha


Existem poucos estudos que visam entender e analisar a dança com elementos afro-brasileiros, seu simbolismo e os profissionais que contribuem para a valorização dessa arte. Quando um corpo negro dança, ele passa uma mensagem política. A artista Gal Martins, que foi curadora da mostra “Corpo político – o rasgar do tempo e do espaço”, enfatiza que a dança contemporânea negra e de raiz africana é sempre vista como algo acessório ou lúdico quando se propõe um debate sobre racismo, ativismo negro e ação política.
Segundo ela “um espetáculo de dança tem a capacidade de comunicar muita coisa, de criar um canal de diálogo único com quem assiste. Corpos negros dançando em um palco, seja dança contemporânea ou tradicional, significam muita coisa, não é uma ‘mensagem mais branda’ ou ‘mais bonita’, a carga expressiva é imensa”.
O corpo negro é um corpo coletivo. Ele revela isso quando expressa através da dança sua identidade, poder, linguagem e reflexão. É dada uma invisibilidade a esse corpo que mostra através de movimentos a sua trajetória de lutas e resistência. 

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