sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Racismo ambiental: a discriminação para além da cor pele

Quando abordamos o termo racismo sempre o ligamos à cor da pele, práticas de intolerância religiosa ou culturas discriminadas. O racismo está para além desses fatores que muitos de nós já conhecemos. Hoje, nós iremos falar sobre o racismo ambiental.
Pra quem não sabe, o racismo ambiental está ligado a questões territoriais e se refere a políticas ou práticas contra grupos ou comunidades vulneráveis que sofrem com violações de direitos realizadas por políticas públicas ou práticas industriais.
O termo foi usado pela primeira vez pelo Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr, um líder negro dos direitos civis que, inclusive, foi assistente de Martin Luther King Jr. Em 1981, Chavis investigava e pesquisava a relação de resíduos tóxicos e a população negra dos Estados Unidos, tirando daí a criação do termo.
De acordo com ele, “racismo ambiental é a discriminação racial no direcionamento deliberado de comunidades étnicas e minoritárias para exposição a locais e instalações de resíduos tóxicos e perigosos, juntamente com a exclusão sistemática de minorias na formulação, aplicação e remediação de políticas ambientais”.
Se pararmos pra pensar quais áreas são exploradas e como elas são exploradas, de forma que prejudique uma parcela da população, podemos ligá-las a pessoas que são marcadas por sua identidade racial, como negros, indígenas, latinos e asiáticos. Antes o termo focava apenas na comunidade negra norte-americana, mas passou a ser ampliado para entender quem eram os outros afetados por tais situações.

Foto retirada do site OBIND


Alguns acontecimentos
Em 2016, na Dakota do Norte, Estados Unidos, uma empresa petrolífera visava a construção de um oleoduto de quase dois mil quilômetros de extensão. Moradores e autoridades locais de Bismarck, capital do estado, temiam a contaminação dos mananciais de água que abasteciam a cidade. Então a empresa desviou a rota da tubulação para que pudesse passar pela Reserva Indígena de Standing Rock, próximos ao lago e rio que abastecia a comunidade indígena Sioux. Em 1982, também nos Estados Unidos, na Carolina do Norte, rejeitos químicos eram depositados em um dos locais mais pobres do estado, o condado de Warren. Lá, haviam comunidades de descendentes de escravos. O material químico era tão tóxico a ponto do Congresso  proibir sua produção em 1979.
No Brasil, tivemos uma Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo, em 2011, contra a siderúrgica ArcelorMittal e o Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) devido a empresa multinacional aplicar no país tecnologia diferente das que aplicava no exterior, dando margem para se pensar que no Brasil é “permitido” poluir mais que em outros lugares. Outra siderúrgica também acusada de contaminação no Rio de Janeiro foi a alemã TKCSA.
Tania Pacheco, criadora do blog Combate ao Racismo Ambiental, enfatiza que “Benjamim Chavis alertava no início da década de 1990 que, à medida que a luta contra o racismo ambiental nos Estados Unidos fosse bem sucedida, os países pobres se tornariam depositários das grandes cargas de rejeitos tóxicos oriundos de indústrias e de outras atividades poluentes. Como sabemos, isso de fato aconteceu”.
Foi aí que o conceito de racismo ambiental se ampliou, tirando o foco apenas das comunidades negras, como por exemplo ocorreu com a comunidade de Warren. O próprio movimento percebeu que outros grupos eram atingidos por tais práticas. No Brasil, o conceito se torna ainda mais amplo, envolvendo traços físicos, culturais, políticos e econômicos, assim como os ribeirinhos, quebradeiras de coco, geraizados, entre outros.
“Por exemplo, por que uma indústria como a Aracruz Celulose vai [em 1967] para o Espírito Santo implantar o monocultivo de eucalipto exatamente em territórios indígenas e quilombolas e não nos territórios onde havia agricultores de descendência italiana com as suas fazendinhas? É porque a terra é pior? Não. Pelo contrário, seria a melhor terra. Mas esses empreendimentos se instalam exatamente onde se pode cutucar com vara curta e ter o mínimo de reação, senão nenhuma reação do poder público e da sociedade em geral”, afirma Tania.
Ela é bem clara em sua fala ao dizer que “ninguém decide fazer um lixão em Ipanema ou Copacabana. A decisão de onde jogar o lixo está ligada à imagem que se tem da população em quem você joga lixo”. De fato! O nosso modelo de desenvolvimento impõe que o modo de viver dos centros urbanos brancos é superior, assim ficando claro que grupos sociais geograficamente localizados sofrem discriminação e ocupam uma posição desfavorecida quando o assunto são políticas ambientais. Nós sabemos que esse tipo de conceito é mais uma herança do nosso passado colonial, sempre colocando o branco como figura superior.

Referências
Marie Claire
Racismo Ambiental        
Fase
Ambiente Brasil

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