quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Maria Firmina dos Reis: a primeira mulher a publicar um romance no Brasil

É do Maranhão que vem a primeira mulher a publicar um romance no Brasil: Maria Firmina dos Reis. Ela nasceu em 1822, na ilha de São Luís, logo após o país ter declarado independência de Portugal. Filha de mãe negra e pai branco, Maria Firmina foi criada pela tia materna e desde muito cedo teve contato com a literatura. Seu romance chamado “Úrsula” foi quem deu origem à temática abolicionista na literatura brasileira.
Em 1847, após ser aprovada em um concurso público em Guimarães, cidade do Maranhão, Maria Firmina torna-se professora de escola primária. Ela utilizava a literatura a seu favor como uma forma de denunciar a escravidão e suas barbaridades. Maria Firmina chegou a publicar poesias, histórias e quebra-cabeças em jornais e revistas locais. Ela também compunha canções abolicionistas.
Vale lembrar que ela teve muitas dificuldades para conseguir publicar seu primeiro romance porque além de ser mulher, Maria Firmina era negra e em sua época a escravidão ainda tomava conta do país. Úrsula só veio a ser publicado em 1859 e chamou bastante atenção não apenas por ser uma mulher negra publicando um livro, mas principalmente por sua narrativa humanizar os escravos da época e relatar o que aconteceu com os negros no Brasil através de suas próprias perspectivas. Esse acontecimento foi importante tendo em vista que o espaço literário era dominado por escritores homens, brancos, escrevendo para uma parcela rica da sociedade.



Foto retirada do Jornal USP
"Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão, fomos amarrados em pé e, para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa", Maria Firmina em Úrsula.


Firmina não foi só a primeira mulher a ter um romance publicado. Lembra do concurso público? Ela foi, também, a primeira mulher a ser aprovada em um concurso público do Maranhão. Uma mulher independente, que se sustentava com seu próprio salário, coisa bastante incomum e não vista com bons olhos até por outras mulheres da sua época. A escritora criou a primeira escola mista para meninos e meninas na cidade de Maçaricó, em Guimarães, oito anos antes da Lei Áurea, o que também causou escândalo. Infelizmente, a escola não chegou a durar três anos.
Em 1887, a escritora teve o seu conto A Escrava publicado na Revista Maranhense. Nele, ela descreve uma participante ativa na causa antirracista. Com o passar o tempo, Maria Firmina caiu no esquecimento. Alguns acreditam que isso se deve ao fato dela criticar a escravidão. O escritor paraibano Horácio de Almeida foi o responsável por resgatar a obra da escritora, em 1962, em um sebo no Rio de Janeiro.
Até hoje, o rosto de Maria Firmina dos Reis é desconhecido. Nos registros oficiais da Câmara dos Vereadores de Guimarães há uma gravura de uma mulher com face branca. A imagem inspira uma escritora gaúcha que na época Firmina chegou a ser confundida. Entrando para a lista de embranquecimento, o busto da escritora no Museu Histórico do Maranhão também é retratado por nariz fino e cabelos lisos.

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