É do Maranhão que vem a primeira mulher a
publicar um romance no Brasil: Maria Firmina dos Reis. Ela nasceu em 1822, na
ilha de São Luís, logo após o país ter declarado independência de Portugal.
Filha de mãe negra e pai branco, Maria Firmina foi criada pela tia materna e
desde muito cedo teve contato com a literatura. Seu romance chamado “Úrsula” foi
quem deu origem à temática abolicionista na literatura brasileira.
Em 1847, após ser aprovada em um concurso
público em Guimarães, cidade do Maranhão, Maria Firmina torna-se professora de
escola primária. Ela utilizava a literatura a seu favor como uma forma de
denunciar a escravidão e suas barbaridades. Maria Firmina chegou a publicar
poesias, histórias e quebra-cabeças em jornais e revistas locais. Ela também
compunha canções abolicionistas.
Vale lembrar que ela teve muitas dificuldades
para conseguir publicar seu primeiro romance porque além de ser mulher, Maria
Firmina era negra e em sua época a escravidão ainda tomava conta do país. Úrsula só veio a ser publicado em 1859 e
chamou bastante atenção não apenas por ser uma mulher negra publicando um
livro, mas principalmente por sua narrativa humanizar os escravos da época e
relatar o que aconteceu com os negros no Brasil através de suas próprias
perspectivas. Esse acontecimento foi importante tendo em vista que o espaço
literário era dominado por escritores homens, brancos, escrevendo para uma
parcela rica da sociedade.
![]() |
Foto retirada do Jornal
USP
|
Firmina não foi só a primeira mulher a ter
um romance publicado. Lembra do concurso público? Ela foi, também, a primeira
mulher a ser aprovada em um concurso público do Maranhão. Uma mulher
independente, que se sustentava com seu próprio salário, coisa bastante incomum
e não vista com bons olhos até por outras mulheres da sua época. A escritora
criou a primeira escola mista para meninos e meninas na cidade de Maçaricó, em
Guimarães, oito anos antes da Lei Áurea, o que também causou escândalo.
Infelizmente, a escola não chegou a durar três anos.
Em 1887, a escritora teve o seu conto A Escrava publicado na Revista
Maranhense. Nele, ela descreve uma participante ativa na causa antirracista. Com o passar o tempo, Maria Firmina caiu no esquecimento.
Alguns acreditam que isso se deve ao fato dela criticar a escravidão. O
escritor paraibano Horácio de Almeida foi o responsável por resgatar a obra da
escritora, em 1962, em um sebo no Rio de Janeiro.
Até hoje, o rosto de Maria Firmina dos
Reis é desconhecido. Nos registros oficiais da Câmara dos Vereadores de
Guimarães há uma gravura de uma mulher com face branca. A imagem inspira uma
escritora gaúcha que na época Firmina chegou a ser confundida. Entrando para a
lista de embranquecimento, o busto da escritora no Museu Histórico do Maranhão
também é retratado por nariz fino e cabelos lisos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário