segunda-feira, 2 de março de 2020

Carolina Maria de Jesus – Ascensão e declínio de uma mulher negra

De catadora de papel a uma das primeiras escritoras negra do Brasil, Carolina Maria de Jesus tem grande contribuição para a literatura brasileira. Seu livro mais famoso “Quarto de Despejo” vendeu cerca de dez mil cópias em apenas quatro dias. Vinda de família humilde, Carolina, assim como muitos, buscou uma vida melhor em São Paulo. Embora tenha conquistado uma vida melhor através dos seus livros, o preconceito por ser uma mulher negra impediu que Carolina seguisse carreira, tendo que voltar a catar papel até seus últimos dias.

Carolina Maria de Jesus nasceu no dia 14 de março de 1914, no interior de Minas Gerais, na cidade de Sacramento. Neta de escravos e filha de lavadeira analfabeta, Carolina tinha mais sete irmãos. Começou a frequentar a escola aos sete anos de idade e logo se interessou pela leitura e escrita. Conseguiu estudar até o segundo ano do Ensino Fundamental.


A vida em São Paulo – Favela do Canindé

A escritora e sua mãe chegaram a ser acusadas de roubo. Sua mãe foi presa e algum tempo depois foi descoberto que ela era inocente. Devido a essa situação, Carolina foi teve que se mudar para São Paulo para buscar sustento na cidade grande.

Após a morte da sua mãe, em 1937, Carolina mudou-se para São Paulo para buscar sustento na cidade grande. Lá, trabalhou como empregada doméstica na casa de um médico. Durante as folgas passava boa parte do tempo na biblioteca da casa. Carolina teve que deixar a o trabalho, pois estava grávida e não poderia mais trabalhar. Tal situação a colocou nas ruas para sobreviver catando papel. Quando encontrava papéis ou cadernos de qualidade, os guardava para suas escritas diárias.

Carolina Maria de Jesus – Foto: reprodução da internet

A descoberta

Naquela época, mãe solteira não tinha muitas chances de conseguir emprego. Por estar em situação de rua, Carolina foi morar na favela do Canindé, zona norte de São Paulo. Construiu seu próprio barraco e nele criou os seus três filhos. Quando tinha um tempo livre após inúmeras horas catando papel, ela sentava e escrevia sobre seu cotidiano na favela. Certo dia, o jornalista Audálio Dantas fez uma matéria no Canindé e conheceu Carolina. Com a intenção de falar sobre como era a vida na favela, Audálio teve acesso ao acervo de relatos feitos ela catadora de papel.

Ainda que muito humilde e tendo cursado somente até o segundo ano do ensino fundamental, Carolina Maria de Jesus tinha grande capacidade de expressão. A partir daí, o sonho de ser escritora começava a se realizar. Maravilhado com tais relatos, o repórter a ajudou a lançar o seu primeiro livro, o Quarto de Despejo, em 1960. O livro foi um sucesso e chegou a ser vendido em 40 países e em 16 idiomas diferentes.

Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade.

Carolina Maria de Jesus – Foto: reprodução da internet

Com a alta venda dos livros, Carolina conseguiu comprar a própria casa em Santana, um bairro de classe média da capital. Em 1962, publicou o livro Casa de Alvenaria. Em 1963, ela publica dois livros: o romance Pedaços da Fome e o livro Provérbios.


O declínio

Em 1969, ela se muda para um sítio em Parelheiros, no extremo da zona sul de São Paulo. O sucesso de Carolina já estava em declínio, afinal ainda era vista pela sociedade como uma mulher negra, mãe, solteira e favelada. O preconceito teve grande impacto no mercado editorial, levando a autora de volta às ruas para catar papel.

Carolina Maria de Jesus faleceu no dia 13 de fevereiro de 1977, aos 62 anos de idade. A causa teria sido uma insuficiência respiratória. Embora hoje a escritora seja reconhecida como uma figura de determinação e inspiração, nossa sociedade racista e preconceituosa não poderia suportar que uma mulher como Carolina pudesse alcançar outro patamar e ser vista como intelectual. Após sua morte, outras seis obras póstumas foram publicadas. Todas são frutos de suas anotações diárias.

Obras
·       Quarto de Despejo (1960)
·       Casa de Alvenaria (1961)
·       Pedaços de Fome (1963)
·       Provérbios (1963)

Obras póstumas
·       Diário de Bitita (1977)
·       Um Brasil para Brasileiros (1982)
·       Meu Estranho Diário (1996)
·       Antologia Pessoal (1996)
·       Onde Estaes Felicidade (2014)
·       Meu Sonho é Escrever:  contos inéditos e outros escritos (2018)


Acesse o site da Negroblue e estampe seu orgulho pelo nosso povo que sempre foi resistência!





Nenhum comentário:

Postar um comentário