sexta-feira, 6 de março de 2020

Conheça Audre Lorde, escritora, feminista, mãe, lésbica e ativista dos Direitos Civis

Escritora, feminista, mãe, lésbica e ativista dos Direitos Civis, Audre Lorde foi uma das pioneiras do conceito feminismo interseccional, onde aponta as distintas formas de opressão sofridas por mulheres que vivem em diferentes condições, levando em consideração raça, classe social e sexualidade. Lorde era americana de descendência caribenha e desafiava feministas brancas quando questionava as opressões sofridas dentro do próprio movimento feminista.

Filha de imigrantes caribenhos, Lorde nasceu em Nova Iorque, no dia 18 de fevereiro de 1934. Ela foi fundamental ao problematizar o movimento feminista norte-americano liderado por mulheres brancas de classe média que ignoravam questões raciais dentro das experiências de opressão.

“Eu sou definida como a outra em todos os grupos de que participo. A forasteira, tanto pela força como pela fraqueza.” – Audre Lorde

Audre Lorde. “Mulheres são poderosas e perigosas” – Foto: reprodução da internet

Formação
Formou-se em Biblioteconomia na Universidade da Cidade de Nova Iorque (1954 – 1959) enquanto trabalhava ao mesmo tempo como operária de fábrica, ghost-writerassistente social, técnica de raio X, atendente de consultório médico e supervisora de artes e artesanato. Em 1954, foi para Universidade Nacional do México, onde passou um ano estudando. Ao voltar, afirmou-se como lésbica e poeta e passou a fazer parte da cultura LGBT. Em 1961, tornou-se mestre em Biblioteconomia pela Universidade de Columbia. Lorde teve dois filhos com o advogado Edwin Rollins – Elizabeth e Jonathan.

Vivência na Alemanha
Durante 1984 e 1992, Audre viveu em Berlim, Alemanha. Neste período, ela contribuiu com o movimento afro-alemão, especialmente entre mulheres, ajudando-as a erguer suas vozes dentro da sociedade racista em que viviam. Inclusive, há um documentário chamado Audre Lorde - The Berlin Years 1984-1992, que relata como foi para a ativista viver na Alemanha e fazer parte do movimento das mulheres afro-alemãs. Ela narra o próprio documentário e conta com a participação de outras mulheres que conviveram com ela na época.

Como Audre se via dentro dos movimentos
Aos 58 anos de vida, Audre Lorde dizia sentir-se uma forasteira por não se sentir, de fato, pertencente a nenhum grupo. Fazer parte de movimentos feministas e LGBT mostrava que o racismo era visto como algo inexistente; já na comunidade negra, ser lésbica era sinônimo de traição e o feminismo como uma distração para luta contra o racismo. Por isso, tamanha foi sua importância em abordar a interseccionalidade em seus estudos. Para Audre, não existia hierarquia de opressão.

“Dentro da comunidade lésbica eu sou Negra, e dentro da comunidade Negra eu sou lésbica. Qualquer ataque contra pessoas Negras é uma questão lésbica e gay porque eu e centenas de outras mulheres Negras somos partes da comunidade lésbica. Qualquer ataque contra lésbicas e gays é uma questão Negra, porque centenas de lésbicas e homens gays são Negros. Não há hierarquias de opressão.” – Audre Lorde

Audre Lorde – Foto: reprodução da internet


A luta contra o câncer
Audre Lorde passou 14 anos da sua vida lutando contra o câncer. O primeiro diagnóstico veio em 1978, um câncer de mama que ocasionou uma mastectomia (remoção completa da mama). Após seis anos, o segundo diagnóstico veio de um câncer de fígado, o que ocasionou sua morte no dia 17 de novembro de 1992, em Saint Croix, Ilhas Virgens Americanas. Lorde passou seus últimos anos com sua parceira Gloria I. Joseph.

O surgimento do conceito autocuidado
O conceito de autocuidado feminino foi usado pela primeira vez em 1980 através de Audre Lorde. Ela defendia que a mulher deveria ter mais cuidado com si mesma, com sua saúde, desejos e emoções. No entanto, ao mesmo tempo que o termo eleva a necessidade da autopreservação das mulheres, em especial as negras que sempre são vistas em último lugar e banalizadas, ele tornou-se comercial através de moda, cosméticos, maquiagem, alimentação etc.

 “Cuidar de mim mesma não é autoindulgência, é uma autopreservação e isso é um ato de guerra política.” – Audre Lorde

Atualmente, o autocuidado está muito relacionado ao consumo. Se pegarmos o exemplo de uma alimentação saudável, ela pode estar relacionada ao autocuidado, mas até que ponto ela cai dentro dos padrões de beleza, valores estéticos e distúrbios? O que Lorde idealizou como autocuidado está ligado a buscar suas necessidades, ajuda e redes de apoio. Saber dizer não para em contextos de opressão também é uma forma de autocuidado.


Referências

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