quarta-feira, 8 de maio de 2019

O amor que nos convida a ir além da sobrevivência


Nascer mulher já é por si só um ato de resistência. Ser negra, então, demanda muita força e luta. Desde muito jovens, elas passam por experiências de exclusão e discriminação. Sem falar a falta de representatividade, o que leva milhares de meninas crescerem sentindo falta de uma identidade que é negada ao imporem padrões de beleza que para elas soam como jamais alcançados.

Quando a mulher negra decide ser mãe, sabemos que várias têm seus direitos violados. De acordo com uma teoria embasada no Estudo Nascer Brasil, um inquérito nacional sobre parto e nascimento, mulheres negras apresentam maior chance de terem um pré-natal inadequado, falta de vinculação com uma maternidade e ausência de acompanhante, mesmo controlando variáveis, como questões de classe.

O acesso a métodos para alívio da dor, tanto farmacológicos ou não, muitas vezes é negado. Além disso, ainda há resquícios da crença de mulheres negras terem mais resistência a dor. Embora absurdo, mas um claro exemplo de racismo vindo do período escravocrata, quando mulheres eram usadas como cobaias para experimentos de ginecologia moderna. O racismo faz parte da violência obstétrica no Brasil e isso é um fato!

O machismo está presente em nossa sociedade. Seja no homem branco ou negro, a ausência na criação dos filhos é outra luta travada pela mulher. Em muitos casos, elas são as principais ou únicas responsáveis por isso. E se você for mãe negra, a responsabilidade de ensinar, administrar e gerenciar desde cedo os conflitos do racismo também é sua.

As recompensas desse trabalho árduo na identidade de seus filhos acabam por render uma nova geração de crianças negras empoderadas. E adivinhem? É a partir daí que nasce o orgulho da luta da mulher negra no papel de transformação social de seus filhos negros.

Em sua música “Formation”, Beyoncé fala que gosta do cabelo afro da sua filha (I like my baby heir with baby hair and afros). O Brasil é o país que mais realiza alisamentos no mundo mesmo 70% da sua população tendo cabelo crespo ou cacheado. O crescimento do empoderamento da negritude tem incentivado essas mães a ampliarem seu diálogo de pertencimento com seus filhos. A escritora bell hooks fala que precisamos “reconhecer a necessidade de conhecer o amor”. Elogiar o cabelo, os traços, a cor da pele é uma das formas para fazer com que eles enxerguem a beleza negra e se orgulhem disso.

Além do mais, é na infância que temos a formação de uma visão sobre nós mesmos e descobrimos o nosso lugar no mundo. Então, quando se cresce em um ambiente que reconhece seus aspectos e lutas contra o racismo, fica mais fácil estar preparado e protegido de futuros momentos dolorosos.
Uma nova geração está nascendo e estamos vivendo um processo de transição de mães e filhos negros orgulhosos de si. Eles amam sua cor, cabelos e traços. Lutam para conquistar seus espaços e quando não encontram, os criam. Seguiremos resistindo por nós e por elas.




Fontes:
https://glo.bo/2tgAEm2
http://revolucaodelas.meiacincodez.com.br
https://bit.ly/2PLiRhJ

Nenhum comentário:

Postar um comentário