No texto “Vivendo de Amor”, a
teórica feminista e crítica cultural bell hooks fala como a escravidão impactou
na nossa maneira de amar e construir relações afetivas. Ela diz que “o sistema escravocrata e
as divisões raciais criaram condições muito difíceis para que os negros
nutrissem seu crescimento espiritual […] havendo a necessidade de reconhecer
que a opressão e a exploração distorcem e impedem nossa capacidade de
amar”.
De fato, a solidão do negro preenche colunas nas escalas da
autoestima, autocuidado e afetividade. Dentro dessa perspectiva, hoje é a voz
do Bruno contar pra gente a delícia e dor de ser negro e gay.
Bruno Souza, brasiliense, 23 anos, Designer
Quando sentei pra escrever sobre a pauta “bicha preta”, me
vi com mil possibilidades de lacrar com o assunto. De dizer o quanto é
excitante mostrar o quão capaz eu sou para 98% das pessoas brancas que trampam
comigo, de me possibilitar todos os dias ser mais autêntico e verdadeiro. Mas
ando reflexivo esses dias. Sobre o que meu futuro reserva. Não em questão de
trabalho ou de quanto tempo vai levar pro sucesso chegar. Tô falando de sentimento,
coisa intensa, sabe?!
Ser gay preta na era dos Apps de relacionamento, onde teu
bíceps fala mais alto que seu repertório cultural ou humano, é muito
complicado. Beira, às vezes, a deslealdade. Tô me questionando se vou ter a
oportunidade de casar, fazer festa, poder abrir a pista de dança com o clássico
da Glória Gaynor ou se a solidão vai ser meu único caminho. Não que ser sozinho
seja problema, muito pelo contrário, é ótimo e necessário, desde que não tenha
sido condicionado por terceiros por conta da sua cor ou pelo seu corpo. Será
que vou viver tipo o Will Smith naquele filme onde ele é a “única” coisa viva?
Não sei o que vai acontecer. Não sei se serei fadado a chorar por motivos sem RG sempre que ouvir “Emotion” da Destiny’s Child. A gente vai vendo até lá. Agora, eu to preocupado mesmo com esse ônibus que não passa.
Não sei o que vai acontecer. Não sei se serei fadado a chorar por motivos sem RG sempre que ouvir “Emotion” da Destiny’s Child. A gente vai vendo até lá. Agora, eu to preocupado mesmo com esse ônibus que não passa.
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