quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Aleijadinho: o maior artista Barroco brasileiro era negro

Assim como muitos artistas negros, Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, teve sua negritude apagada. É como se no Brasil não pudesse existir grandes feitos por pessoas negras e, caso exista, suas biografias são encarregadas de embranquecê-los.
Um bom exemplo disso é a biografia de Machado de Assis que, inclusive, já citamos aqui no blog da Negroblue. Em muitos registros, o Bruxo de Cosme Velho tinha sua identidade negada, pois era retratado como um homem branco.
Muitos sites falam sobre Aleijadinho, mas pouquíssimos revelam que ele era negro. Seu pai era o arquiteto português Manoel Francisco Lisboa. Sua mãe se chamava Isabel e era uma afro-brasileira escravizada de propriedade do pai dele. Aleijadinho foi batizado pelo Padre João de Brito na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, assim, conseguindo sua alforria por concessão de seu pai. Estima-se que ele nasceu no dia 29 de agosto de 1730, em Ouro Preto, Minas Gerais.

Imagem de Aleijadinho retirada do site Opinião & Notícia    

Há uma cinebiografia chamada “Cristo de Lama (A História do Aleijadinho)”, produzida em 1968 e dirigida por Wilson Silva, que o artista foi interpretado pelo ator branco e de olhos claros Geraldo Del Rey. Na década de 70, o ator também branco Stênio Garcia, interpretou Aleijadinho em um especial produzido pela Rede Globo.
No entanto, em 2003, o artista barroco recuperou sua cor no cinema ao ser interpretado por Maurício Gonçalves, filho do também ator Milton Gonçalves, com o filme “O Aleijadinho: Paixão, Glória e Suplício", dirigido por Geraldo Santos Pereira. 


Filme O Aleijadinho: Paixão, Glória e Suplício
Estilos e Obras
Considerado uma dos maiores artistas plásticos da época do Brasil colonial, Aleijadinho começou a vida artística ainda na infância aprendendo a entalhar e esculpir. Suas obras misturam diversos estilos do barroco e suas esculturas abrigam muitas características do rococó e de estilos clássicos e góticos. O principal material utilizado nas suas obras de arte era a pedra-sabão, matéria prima brasileira. Além da madeira, é claro.
Muitas de suas obras estão na cidade histórica de Ouro Preto. A Igreja de São Francisco de Assis é uma das obras arquitetadas por Aleijadinho, em 1766. Há também detalhes de autoria da oficina, como o altar-mor, o retábulo, o frontispício e a fonte-lavabo da sacristia.

Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto, arquitetada
por Aleijadinho (Foto: Pedro Ângelo/G1)

A doença
Aos 47 anos, uma doença começou a afetá-lo. Seu corpo e membros são deformados, principalmente as mãos. É daí que surge o seu apelido Aleijadinho, que o faz trabalhar de joelhos após perder os dedos dos pés. No entanto, o artista não parou de trabalhar.
Em 1800, ele trabalhou na execução das obras das estátuas dos profetas em pedra-sabão, que estão localizadas no adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas. Na capela em frente ao Santuário também estão os seis passos da Paixão de Cristo, obra também construída no mesmo ano pela oficina do mestre.
No decorrer dos séculos, muitos diagnósticos foram propostos por médicos e historiadores sobre a sua doença, todas conjeturais, incluindo entre outras etiologias a hanseníase (improvável, visto que o artista não foi excluído do convívio social, como ocorria com todos os leprosos), sífilis, escorbuto, traumas físicos decorrentes de uma queda, artrite reumatoide e poliomielite.
Aleijadinho faleceu no dia o dia 18 de novembro de 1814, aos 76 anos de idade. Ainda que solteiro, deixou um filho que tinha com Narcisa da Conceição, negra, moradora do Rio de Janeiro. Seu filho, Manoel Francisco Lisboa Neto e sua nora e neto viveram sob sua proteção econômica. 


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