segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Exclua palavras e expressões de conotação racista do seu vocabulário

É de nosso costume utilizar expressões diárias que não sabemos de onde vieram ou mesmo o que motivou a existência delas. Nessas idas e vindas, reproduzimos muitas palavras com conotações racistas. Quantos desses termos racistas você usa no dia a dia sem nem perceber?
É de extrema importância entender a etimologia das palavras. Para quem não sabe o que significa, é o estudo da evolução das palavras. A escravidão durou mais de 300 anos no Brasil e até hoje, infelizmente, ainda é possível sentir os efeitos desse período. Sendo assim, muitas palavras e expressões foram criadas em cima de situações vividas pelos negros.

Duda Buchmann – Foto retirada do site GAÚCHAHZ


O racismo está estruturado em nossa sociedade e essa longa lista de palavras com conotações racistas dizem muito sobre a nossa história e cultura. Portanto, para que essas palavras e expressões sumam do nosso dia a dia, listamos algumas com seus significados:

A coisa tá preta
Quando dizemos que uma situação está ruim, desconfortável, desagradável, perigosa, difícil. A fala racista reflete na associação a palavra “preto”.


Denegrir
O mesmo que difamar. Seu significado real é “tornar negro”, como algo maldoso e ofensivo, “manchando” a reputação antes “limpa”.

Da cor da pele
Fomos ensinados que aquele lápis meio rosado, bege, é um tom que representa a cor da pele. Tendo em vista que nem todas as pessoas possuem o mesmo o mesmo tom de pele e que, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014, realizada pelo IBGE, 53% da população brasileira é formada por negros ou pardos.

Doméstica
Negros precisavam de um “corretivo” para serem “domesticados”, pois muitos eram tratados como animais rebeldes.

A dar com o pau
Essa expressão vem dos navios negreiros. Muitos africanos trazidos forçadamente para o Brasil preferiam morrer a serem escravizados e faziam greve de fome durante a travessia entre o continente africano e o Brasil. Um “pau de comer” foi criado para que eles fossem obrigados a se alimentar, assim, jogando angu, sopa e outras comidas pela boca.

Meia tigela
Os negros que trabalhavam nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas metas e, por isso, recebiam somente meia tigela de comida como punição. A eles era dado o apelido de “meia tigela” por ser algo sem valor e medíocre.

Mulata
Na língua espanhola, mulata refere-se ao cruzamento de jumenta com cavalo ou de jumento com égua. O termo fica ainda mais pejorativo quando usado “mulata tipo exportação”, reiterando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria. A palavra remete à sedução, sensualidade.

Cor do pecado
Não use esse tipo de elogio. Ele está associado ao imaginário da mulher negra sensualizada. Como vivemos em uma sociedade como a brasileira que se diz religiosa, a ideia do pecado é ainda mais negativa.

Samba do crioulo doido
Significa confusão ou trapalhada, uma expressão que reafirma o estereótipo e descriminalização aos negros. A frase é título do samba que satiriza o ensino de História do Brasil nas escolas do país no tempo da ditadura e foi composto por Sérgio Porto (ele assinava com o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta).

Ter um pé na cozinha
Forma racista de falar de uma pessoa com origem negra. Infeliz recordação do período da escravidão em que o único lugar permitido às mulheres negras era a cozinha da casa grande. Uma realidade ainda longe de mudar no Brasil.

Moreno(a)
Muitas pessoas acreditam que chamar alguém de negro é ofensivo. Então, chamá-la de “morena” ou “mulata”, embranquecendo-a “amenizaria” o “incômodo”.

Negro de traços finos
Segue a mesma lógica do clareamento, que se aplica à “beleza exótica”, tratando o que está fora da estética branca ou europeia como incomum.

Cabelo ruim
Fios “rebeldes”, “cabelo duro”, “carapinha”, “mafuá”, “piaçava” e outros tantos derivados depreciam o cabelo afro. Por vários séculos, causaram a negação do próprio corpo e a baixa autoestima entre as mulheres negras sem o “desejado” cabelo liso. Nem é preciso dizer o quanto as indústrias de cosméticos, muitas originárias de países europeus, se beneficiaram do padrão de beleza que excluía os negros.

Não sou tuas negas
Escravas negras eram literalmente propriedade dos homens brancos e utilizadas para satisfazer desejos sexuais, em um tempo no qual assédios e estupros eram ainda mais recorrentes. Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo.

Serviço de preto
Representa uma tarefa malfeita, feita de forma errada, associando o racismo ao trabalho realizado pelo negro.

Inveja branca
A ideia do branco está associada a algo positivo, o que só reforça a associação entre preto e comportamentos negativos.

Há outras expressões que são utilizadas com naturalidade por muita gente no nosso dia a dia sem que percebam sua conotação negativa. Por exemplo, magia negra, mercado negro, listra negra, ovelha negra. 

Outras duas palavras que você também pode excluir do seu vocabulário são:

Judiar: um termo antissemitismo, ou seja, de preconceito contra judeus. A palavra nasceu, inclusive, com o sentido de maltratar um judeu.

Homossexualismo: tem caráter de doença. Se você for falar sobre orientação sexual, use homossexualidade.

Como diria Rincon Sapiência: “se eu te falar que a coisa tá preta, a coisa tá boa. Pode acreditar”.



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