Dona de um timbre de voz grave e
inconfundível, Clementina de Jesus era uma mulher negra, pobre, dona de casa e
empregada doméstica que passou a brilhar nos palcos e mídia após os 63 anos de
idade cantando grandes nomes da música brasileira, entre eles João Bosco,
Paulinho da Viola, Pinxinguinha etc.
Quelé, assim como era conhecida carinhosamente
por seus amigos, nasceu na cidade de Valença (RJ), na região do Vale do
Paraíba. Sua mãe era a parteira Amélia de Jesus dos Santos e seu pai Paulo
Batista dos Santos, capoeira e violeiro. Aos sete anos, mudou-se para o Rio de
Janeiro, para o bairro do Oswaldo Cruz, onde depois surgiria a Escola de Samba
Portela. Aos 12 anos, era pastorinha no bloco carnavalesco Moreninha de
Campinas. Por volta dos 15 anos, cantava no couro da igreja do seu bairro e
passou a frequentar rodas de samba.
Sua voz já chamava bastante atenção, o que
a levou a ser convidada por Heitor dos Prazeres para ensaiar suas pastoras. Em
1940, casou-se com Albino Pé Grande, mangueirense, e logo se mudou para o Morro
da Mangueira. Clementina trabalhou por mais de 20 anos como empregada doméstica
e durante esse período conciliava o trabalho com as rodas de samba.
Durante a década de 1960, Clementina
conheceu o Hermínio Bello de Carvalho, um poeta e compositor que ficou
fascinado por sua voz. Ele a convidou para participar do “O menestrel”,
iniciativa para integrar as músicas popular e erudita. Quelé cantava por
prazer, alegria, amor. Jamais esperava obter tanto sucesso como cantora
profissional.
Ainda na década de 1960, participou do
musical “Rosa de Ouro” que era organizado por Hermínio. Lá, cantou com artistas
como Elton Medeiros e Araci Cortes. Em 1966, ela grava seu primeiro disco solo
com um repertório de jongo, curima, sambas e partido-alto. Clementina
conquistava todos com a sua voz e chamou bastante atenção da crítica. Foi
convidada por Milton Nascimento para participar do seu disco “Milagre dos
Peixes” gravando a faixa “Escravos de Jó”.
O “Rosa de Ouro” teve grande importância
na vida artística de Clementina de Jesus. Não só lhe possibilitou grande
sucesso como lhe rendeu homenagem dos sambistas que participaram das gravações
de seus dois LPs. Elton Medeiros gravou o partido-alto “Clementina, cadê
você?”.
Em 1973, mesmo após sofrer uma trombose,
Clementina teve forças para gravar mais um LP intitulado “Clementina de Jesus –
Marinheiro só. Em 1976, lança o LP “Clementina de Jesus - convida Carlos
Cachaça”. Um ano depois participou de gravações com Clara Nunes. Em 1982,
recebeu homenagem da Escola de Samba Lins Imperial como o enredo “Clementina –
Uma Rainha Negra. Ainda no mesmo ano, gravou o LP “Canto dos Escravos” com
vissungos de escravos da região da Diamantina. Também foi homenageada no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro com um espetáculo com participação de Paulinho da
Viola, Elisete Cardoso, João Nogueira, Gilberto Gil, Beth Carvalho, Orquestra
Sinfônica do Teatro Municipal e da bateria da Mangueira.
Quelé não parava e a música corria em suas veias. Em 1985, ela gravou mais um LP intitulado “Clementina e os convidados”. Nesse, ela se apresenta mais como compositora e conta com a participação de João Bosco, Roberto Ribeiro, Martinho da Vila, Dona Ivone Lara e Clara Nunes, além de outros grandes nomes do samba.
Sua última apresentação foi em maio de
1987, no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. Além dos seus LPs, Clementina
de Jesus fez muitas participações especiais e hoje é considerada uma das
grandes cantoras da música popular brasileira. Um marco para sua época! Sua voz
já foi comparada com a da Billie Holiday, uma das maiores cantoras de jazz
feminino.
A Rainha Quelé faleceu no dia 19 de
setembro de 1987, no Rio de Janeiro. Deixou uma filha, Olga, nove netos e sete
bisnetos. Passou por cinco derrames e dois infartos. Clementina de Jesus era
uma mulher forte e que deixou um imenso legado na música, além de muita saudade
no coração dos amantes do samba.
Curiosidades
Curiosidades
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Vissungos são cantos executados pelos escravos
mineradores de Minas Gerais do século VVII.
Mesclam palavras do Português com o idioma africano.
Mesclam palavras do Português com o idioma africano.
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Há um documentário chamado Clementina de Jesus –
Rainha Quelé feito em sua homenagem com depoimentos e arquivos
coletados ao longo de mais de dez anos.
Pra quem adora um samba e carrega o legado
da música negra do lado esquerdo do peito, vem escolher a sua camiseta no
estilo no site da Negroblue.
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