sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Luiz Gama, o Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil

Conhecido como afro, Getúlio ou Barrabaz, Luiz Gama foi um líder abolicionista importantíssimo, além de jornalista e poeta brasileiro. Inclusive, é patrono da cadeira de nº 15 da Academia Paulistana de Letras. Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu na Bahia em 21 de agosto de 1830. O fato é o sangue que corria nas veias de Gama era de resistência e luta pelo seu povo.

Sua mãe, Luísa Mahin, era uma africana livre oriunda da Costa da Mina, litoral da África Ocidental. Na época, a sua mãe foi acusada de participar da primeira grande rebelião de escravos da história do Brasil, a Revolta dos Malês, na Bahia. Quando Gama tinha 8 anos de idade, sua mãe precisou fugir para o Rio de Janeiro para escapar da perseguição policial. Então, ele passou a ser criado pelo pai, um fidalgo de origem portuguesa.


Luísa Mahin

Aos 10 anos de idade, Gama foi vendido pelo pai como pagamento de uma dívida de jogo. O negociante e contrabandista Antônio Pereira Cardoso o levou para São Paulo. Como Luiz Gama era de origem baiana, a sua venda não aconteceu. Os baianos eram vistos como desordeiros e revolucionários. Sendo assim, era preterido pelos compradores e permaneceu na fazendo do Senhor Cardoso como escravo doméstico.

Aos 17 anos aprendeu a ler e escrever com um estudante que havia se hospedado na fazenda onde era escravo. Um ano mais tarde, em 1848, fugiu da fazenda e logo em seguida conseguiu documentos comprovando sua liberdade, pois era filho de uma negra liberta, a Luísa Mahin. Nesse mesmo ano, Gama entra para Força Pública da Província e em 1854 foi dispensado por ter ameaçado um oficial que havia lhe insultado. Devido ao ato, passou 39 dias preso. 

Em 1856, foi nomeado escrevente da Secretaria da Polícia, o que lhe possibilitou acesso à biblioteca do delegado, então professor de Direito. Luiz Gama tornou-se o que era conhecido como rábula, um advogado não formado e passou a atuar em defesa de diversos escravos. Estima-se que Gama tenha libertado cerca de 500 escravos que eram mantidos cativos injustamente ou acusados de crimes contra os senhores.


Luiz Gama

Após três anos, ele publica o seu primeiro livro de poesias. Um de seus poemas mais famosos é “Quem sou eu”, mais conhecido como Bodarrada, um termo pejorativo utilizado para ridiculizar os negros. Ele se tornou o primeiro escritor brasileiro a assumir sua identidade negra. Assim, foi fundador da literatura de militância negra no Brasil.


Quem Sou Eu? : (...) Se negro sou, ou sou bode/Pouco importa. O que isto pode?/Bodes há de toda casta/ Pois que a espécie é muito vasta.../Há cinzentos, há rajados,/Baios, pampas e malhados,/Bodes negros, bodes brancos,/E, sejamos todos francos,/Uns plebeus e outros nobres./Bodes ricos, bodes pobres,/Bodes sábios importantes,/E também alguns tratantes...

Também contribuiu escrevendo em jornais satíricos de São Paulo. Em 1880, tornou-se líder da Mocidade Abolicionista e Republicana. Lutou nas cortes provincianas para estabelecer que todos os escravos que ingressassem no país após a proibição do tráfico negreiro, em 1850, fossem livres por lei. Gama considerava legítima a defesa de crimes cometidos por escravos contra seus senhores. Uma vez confessou aos seus leitores paulistanos: “Eu advogo de graça, por dedicação sincera à causa dos desgraçados; não pretendo lucros, não temo represálias” (Correio Paulistano, 20 de nov. de 1869).

Luiz Gama foi o primeiro negro brasileiro a lutar contra a escravidão e cultura de branqueamento no Brasil, inclusive falamos sobre este assunto em nosso blog. Lúcio de Mendonça, advogado e amigo, insistiu para que Gama escrevesse uma carta autobiográfica, o que nos possibilitou a lembrança de Luísa Mahin até os dias atuais.

Faleceu em São Paulo, no dia 24 de agosto de 1882, seis anos antes da Lei Áurea. A diabetes dificultava sua locomoção e mesmo com o esforço de vários médicos, Luiz Gama não resistiu e partiu aos 52 anos de idade. A cidade de São Paulo nunca havia visto antes uma grande quantidade de pessoas em um cortejo fúnebre.

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