segunda-feira, 4 de novembro de 2019

A Revolta dos Malês


Você já ouviu falar na Revolta dos Malês? Hoje, falaremos da luta pela liberdade de negros escravizados que ocorreu em Salvador, em janeiro de 1835. A rebelião era de caráter racial, contra a escravidão e a religião católica. Nesse período, metade da população de Salvador era formada por negros escravos ou libertos e de diferentes culturas, dentre elas, a islâmica, como os haussás e os nagôs.
A população dos malês era formada por negros libertos e escravos africanos, tendo como principais os “negros de ganho”, que tinham mais liberdade do que os outros negros de fazenda para que pudessem circular pela cidade. Ainda assim, isso não os excluía de serem alvos de desprezo e violência.
Geralmente, os negros de ganho usufruíam de atividades livres, tais como alfaiates, artesãos, carpinteiros e pequenos comerciantes. Dessa forma, muitos deles juntavam os poucos ganhos que os seus senhores lhe deixavam para comprar sua alforria. Eles dominavam a leitura e escrita árabe. Inclusive, “malê” é uma alteração do termo ioruba imalê, que significa muçulmano.
Durante a primeira década do século 19, ocorreram diversas rebeliões de escravos na Bahia. Resistência corria na veia daqueles que sofreram durante o período escravocrata e a revolta dos Malês foi apenas uma das muitas que aconteceram. Algumas fontes indicam que o levante contou com cerca de 1500 pessoas. Suas etnias eram diversas, mas o destaque estava nos povos nagô, conhecidos como iorubás, além de haussás.
Os muçulmanos que lideraram a revolta foram Manuel Calafate, Aprígio, Pai Inácio, Gustard, Ahuna, Pacifico Licutan, Sule ou Nicobé e Dassalu ou Damalu. Os outros líderes eram o escravizado tapa, Luís Sanim e o liberto haussás Elesbão do Carmo ou Dandará, sendo esses os que negociavam com fumo.
A Revolta dos Malês tinha como questão que todos os escravos africanos de origem muçulmana fossem libertos com a tomada do governo. Muitas reuniões foram feitas para planejar o ataque, tudo isso, claro, possibilitado por causa de uma certa liberdade urbana que alguns escravos possuíam. A revolta também foi resultado do abuso político e da extrema carência econômica do período regencial.

Revolta dos Malês em 1835 Foto: Reprodução da Internet


Os malês pretendiam tomar o poder, instituir o islamismo, assassinar e apreender bens de pessoas brancas e mulatas e escravizar os que não fossem muçulmanos. Primeiro, queriam conquistar a cidade de Salvador e depois seguir para os engenhos do Recôncavo baiano.
O movimento foi delatado a um Juiz de Paz de Salvador. Prontamente, as autoridades foram acionadas e organizadas com rapidez. Os revoltosos foram cercados quando seguiam para Itapagipe. Como as tropas do governo eram maiores não só em números como também em armamento, não houve chances para os escravizados. O confronto resultou em setenta escravos e sete soldados mortos. Duzentos foram presos, julgados e condenados com as mais variadas penas: açoites, morte ou envio de volta à África.
As autoridades não queriam correr o risco de que novas revoltas voltassem a acontecer. Algumas medidas para impedir outras iniciativas foram proibir a circulação de muçulmanos nas ruas à noite e a prática de cerimônias de religião islâmica. De todo modo, a Revolta dos Malês mostrou às autoridades e elites a força população negra tinha, além de suas insatisfações econômicas, políticas e falta de liberdade religiosa.

Referências

Governo de Palmares
Info Escola
Multi Rio

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