quarta-feira, 6 de novembro de 2019

As conquistas do Movimento Negro Unificado e seu papel na criação do Dia Nacional da Consciência Negra

Estamos no mês da Consciência Negra, celebrado todo dia 20 de novembro em homenagem a Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo do período escravocrata no Brasil. Zumbi resistiu com e pelo seu povo até o dia em que foi assassinado. Além de fazer referência à data da sua morte, o Dia da Consciência Negra também existe para a reflexão sobre a importância do povo e da cultura africana no Brasil.
Talvez, poucos saibam que quem oficializou o dia 20 de Novembro como sendo o Dia da Consciência Negra foi o Movimento Negro Unificado (MNU), e é sobre a importância que esse movimento teve para a discriminação racial que iremos falar hoje no blog da Negroblue.
O Movimento Negro Unificado foi fundado no dia 18 de junho de 1978, mas só lançado publicamente no dia 7 de julho do mesmo ano, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo. No começo, eram conhecidos por Movimento Unificado Contra Discriminação Racial. Associações negras de diferentes partes do país e organizações antirracistas ligadas à esquerda política faziam parte do movimento.
O Brasil sempre foi embalado por diversos movimentos negros, porém de forma precária e clandestina. Por igualdade, os nossos antepassados já lutavam há muito. Zumbi dos Palmares, como já citamos, é um dos principais nomes, sem falar as diversas revoltas que ocorreram naquele período.
Com o Movimento Negro Unificado não foi diferente. A juventude negra se reuniu em indignação a acontecimentos da época, quando, durante a ditadura militar de 1978, o feirante Robson Silveira da Luz foi morto e torturado após ser acusado de roubar frutas no trabalho. No mesmo ano, outro caso que causou revolta foi a discriminação sofrida por quatro garotos jogadores de vôlei do Clube Regatas do Tietê e a morte do operário Nilton Lourenço, morto pela Polícia Militar no bairro da Lapa, São Paulo.

Primeiros atos do MNU comparavam o Brasil ao apartheid sul-africano.
(Foto: Jesus Carlos via Memorial da Democracia)

Numa pegada meio Panteras Negras, a juventude negra pedia o fim da violência policial, do racismo propagado pelos meios de comunicação, no mercado trabalho e do regime. O movimento foi fundamental não apenas durante a ditadura, mas também depois dela. Sua resistência e luta em pautas contra a discriminação racial no Brasil contribuiu para houvesse a formulação de demandas à Assembleia Constituinte de 1988, dando origem à Constituição Cidadã.
Com mais de quatro décadas lutando pelos direitos da comunidade negra, o MNU conseguiu grandes conquistas, como por exemplo, demarcar terras quilombolas, ensino da história afro-brasileira nas escolas previsto na Lei 10.639, o crescente número – mesmo que insuficiente – de negros ingressando nas universidades através de cotas, e fortalecer a consciência racial dos jovens.
Em entrevista ao site Brasil de Fato, Milton Barbosa, que participou do MNU desde a sua fundação, conta qual foi um dos momentos mais importantes do movimento:

“Para mim, foi quando decidimos no dia 4 de novembro de 1978 transformar o dia 20 de novembro no Dia Nacional da Consciência Negra, em uma assembleia nacional em Salvador, na Bahia. Esse foi um momento de extrema importância. O próprio ato do dia 7 de julho foi muito importante. Algumas figuras que tiveram o papel histórico fundamentais que se constituíram dentro do Movimento Negro Unificado, como Lélia Gonzales, Luiza Barros, e mais algumas outras figuras históricas que ainda estão vivas fazendo um trabalho fundamental. Tivemos também marchas que foram realizadas no mês de novembro, em 1995, em Brasília, o primeiro seminário nacional que fizemos com os quilombolas. Tem momentos que são inesquecíveis para nós, militantes, para dar um norte político na nossa luta”.
A criação do Movimento Negro Unificado ajudou que o racismo e a discriminação no Brasil fossem enfrentados de outra forma. Eles se tornaram um canal para reivindicações colocando sempre o negro no centro, buscando igualdade política, econômica, social e cultural. São mais de quatro décadas lutando pelos direitos do povo negro.


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