terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Conheça André Rebouças, abolicionista e primeiro engenheiro negro do Brasil


O primeiro engenheiro negro brasileiro nasceu há 182 anos. Ele se chamava André Pinto Rebouças e é considerado uma das maiores figuras do abolicionismo do Brasil. Seu pai, Antônio Pereira Rebouças, era advogado (rábula), filho de uma forra e alfaiate português. Já sua mãe, Carolina Pinto Rebouças, era filha de comerciante. André era o filho mais velho dos entre os sete irmãos.

André nasceu em Cachoeira, Bahia, e possuía uma condição financeira atípica na época, pois seu pai era um homem importante, representou o estado da Bahia na Câmara dos Deputados e foi secretário do governo da província de Sergipe, além de conselheiro do império. Isso favoreceu André e seus irmãos a terem acesso a uma educação de qualidade e frequentar lugares onde não era comum ter a presença de negros.



André Rebouças – Foto: reprodução da internet

A vida no Rio de Janeiro

Sua família mudou-se para o Rio de Janeiro no ano de 1846. Lá, ele e seu irmão Antônio Rebouças ingressam na Escola Militar (seguidamente, Escola Politécnica) e se formam como 2º tenente do Corpo de Engenheiros. Na Escola de Aplicação da Praia Vermelha, os irmãos Rebouças complementam seus estudos e em 1859 André se torna bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas, o que lhe rendeu o grau de engenheiro militar no ano seguinte.

Ainda com seu irmão Antônio, eles partem para estudar na Europa entre fevereiro de 1861 e novembro de 1862 e se especializam em fundações e obras portuárias, o que rende para André o título de uma das maiores autoridades brasileiras em engenharia ferroviária e hidráulica. Aqui, trabalharam como comissionados do Estado. Dentre as suas competências estava a vistoria e aperfeiçoamento dos portos e fortificações litorâneas, elementos de estratégia na garantia da soberania no país.  


Antônio e André Rebouças – Foto: reprodução da internet

Entre 1865 e 1866, André Rebouças serviu como engenheiro na Guerra do Paraguai. Retornou por motivos de saúde e junto a seu irmão passou a desenvolver projetos para tentar estruturar companhias privadas com captação de recursos junto a instituições particulares e bancos, afim de modernizar o país. No Rio de Janeiro, André ficou bastante conhecido por solucionar problemas de abastecimento de água.


Os movimentos abolicionistas

Por volta de 1880, o engenheiro começa a dar seus primeiros passos em campanhas abolicionistas, ajudando, assim, a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Também fez parte da Confederação Abolicionista, onde redigiu o estatuto da Associação Central Emancipadora. Rebouças escreveu diversos artigos para o Jornal Gazeta da Tarde, incentivou a criação de uma Sociedade Abolicionista na Escola Politécnica, lecionando em 1883. Junto a José do Patrocínio, redigiu o Manifesto da Confederação Abolicionista.

André Rebouças tinha uma visão progressista e liberal e logo foi contra a indenização dos senhores de escravos, pois acreditava que o trabalho dos povos escravizados não poderia jamais ser superar qualquer que tenha sido o investimento dos seus senhores. Afinal, aceitando tais indenizações era o mesmo que reconhecer a legalidade de posse de escravos. O exercício de qualquer atividade deveria ter remuneração. Segundo André, se os salários não refletissem autonomia e dignidade aos trabalhadores, logo representariam re-escravização. Ele defendia que a emancipação e integração do negro na sociedade deveria estar ligada à garantia de acesso à terra.


O exílio
Por ser muito próximo a D. Pedro II, em 1889, Rebouças esteve com a família real em seu exílio em Lisboa após a Proclamação da República. De lá, trabalhou no jornal Gazeta de Portugal e o The Time, de Londres. Em 1892, chegou a mudar-se para Cannes, na França, a pedido de D. Pedro II. Devido a problemas financeiros, André Rebouças muda-se para Luanda, Angola, para trabalhar. Após pouco mais de um ano, ele volta para Portugal e passa a morar em Funchal, na Ilha da Madeira. Devido a sua angústia com o exílio e problemas de saúde, no dia 9 de maio de 1898, André Rebouças atirou-se de um penhasco que havia próximo ao hotel em que vivia.

Embora tenha terminado a vida de forma tão triste, André Rebouças teve uma contribuição importante na modernização do Brasil e também na abolição da escravatura. Em homenagem a sua figura, várias cidades do país possuem seu nome. Por exemplo, o bairro Rebouças, em Curitiba, a avenida Rebouças, em São Paulo, o túnel André Rebouças, no Rio de Janeiro, entre outros.




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