O primeiro engenheiro negro brasileiro nasceu
há 182 anos. Ele se chamava André Pinto Rebouças e é considerado uma das
maiores figuras do abolicionismo do Brasil. Seu pai, Antônio Pereira Rebouças,
era advogado (rábula), filho de uma forra e alfaiate português. Já sua mãe,
Carolina Pinto Rebouças, era filha de comerciante. André era o filho mais velho
dos entre os sete irmãos.
André nasceu em Cachoeira, Bahia, e possuía uma
condição financeira atípica na época, pois seu pai era um homem importante,
representou o estado da Bahia na Câmara dos Deputados e foi secretário do
governo da província de Sergipe, além de conselheiro do império. Isso favoreceu
André e seus irmãos a terem acesso a uma educação de qualidade e frequentar lugares
onde não era comum ter a presença de negros.
A vida
no Rio de Janeiro
Sua família mudou-se para o Rio de Janeiro no
ano de 1846. Lá, ele e seu irmão Antônio Rebouças ingressam na Escola Militar
(seguidamente, Escola Politécnica) e se formam como 2º tenente do Corpo de
Engenheiros. Na Escola de Aplicação da Praia Vermelha, os irmãos Rebouças
complementam seus estudos e em 1859 André se torna bacharel em Ciências Físicas
e Matemáticas, o que lhe rendeu o grau de engenheiro militar no ano seguinte.
Ainda com seu irmão Antônio, eles partem para
estudar na Europa entre fevereiro de 1861 e novembro de 1862 e se especializam
em fundações e obras portuárias, o que rende para André o título de uma das
maiores autoridades brasileiras em engenharia ferroviária e hidráulica. Aqui, trabalharam
como comissionados do Estado. Dentre as suas competências estava a vistoria e
aperfeiçoamento dos portos e fortificações litorâneas, elementos de estratégia na
garantia da soberania no país.
Entre 1865 e 1866, André Rebouças serviu como
engenheiro na Guerra do Paraguai. Retornou por motivos de saúde e junto a seu
irmão passou a desenvolver projetos para tentar estruturar companhias privadas
com captação de recursos junto a instituições particulares e bancos, afim de
modernizar o país. No Rio de Janeiro, André ficou bastante conhecido por
solucionar problemas de abastecimento de água.
Os
movimentos abolicionistas
Por volta de 1880, o engenheiro começa a dar seus primeiros passos em campanhas abolicionistas, ajudando, assim, a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Também fez parte da Confederação Abolicionista, onde redigiu o estatuto da Associação Central Emancipadora. Rebouças escreveu diversos artigos para o Jornal Gazeta da Tarde, incentivou a criação de uma Sociedade Abolicionista na Escola Politécnica, lecionando em 1883. Junto a José do Patrocínio, redigiu o Manifesto da Confederação Abolicionista.
André Rebouças tinha uma visão progressista e
liberal e logo foi contra a indenização dos senhores de escravos, pois
acreditava que o trabalho dos povos escravizados não poderia jamais ser superar
qualquer que tenha sido o investimento dos seus senhores. Afinal, aceitando
tais indenizações era o mesmo que reconhecer a legalidade de posse de escravos.
O exercício de qualquer atividade deveria ter remuneração. Segundo André, se os
salários não refletissem autonomia e dignidade aos trabalhadores, logo
representariam re-escravização. Ele defendia que a emancipação e integração do
negro na sociedade deveria estar ligada à garantia de acesso à terra.
O exílio
Por ser muito próximo a D. Pedro II, em 1889, Rebouças
esteve com a família real em seu exílio em Lisboa após a Proclamação da
República. De lá, trabalhou no jornal Gazeta de Portugal e o The Time, de
Londres. Em 1892, chegou a mudar-se para Cannes, na França, a pedido de D.
Pedro II. Devido a problemas financeiros, André Rebouças muda-se para Luanda,
Angola, para trabalhar. Após pouco mais de um ano, ele volta para Portugal e
passa a morar em Funchal, na Ilha da Madeira. Devido a sua angústia com o
exílio e problemas de saúde, no dia 9 de maio de 1898, André Rebouças atirou-se
de um penhasco que havia próximo ao hotel em que vivia.
Embora tenha terminado a vida de forma tão
triste, André Rebouças teve uma contribuição importante na modernização do
Brasil e também na abolição da escravatura. Em homenagem a sua figura, várias
cidades do país possuem seu nome. Por exemplo, o bairro Rebouças, em Curitiba,
a avenida Rebouças, em São Paulo, o túnel André Rebouças, no Rio de Janeiro,
entre outros.
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