segunda-feira, 23 de março de 2020

O Massacre de Shaperville e o Dia Internacional contra a Discriminação Racial

Hoje, é comemorado o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. A data foi marcada após o trágico episódio do “Massacre de Shaperville”, na África do Sul. A Organização das Nações Unidas (ONU) designou a data para servir de reflexão sobre as batalhas enfrentadas pelo povo negro por direitos civis.
Na África do Sul, houve um período chamado “Apartheid”, que significa “separação”, onde os negros sul-africanos tinham lugares determinados para circular. Tudo era determinado segundo a cor da pessoa. Nesse período, em 1948, as pessoas possuíam passaportes com registro para poderem frequentar escolas, igrejas, supermercados, banheiros e outros locais públicos. No documento havia fotos, números, registros profissionais, anotações de imposto de renda e até ficha criminal. Se um policial solicitasse o seu registro, era bom você tê-lo.
O tal “passaporte” foi bastante usado durante a escravidão, eles só o “adaptaram” para continuar a ter uma forma controle sobre a população negra do país. Os movimentos de resistência negra da África do Sul que lutavam pelo fim do Apartheid exigiam o fim da “Lei do Passe”. Na época, Nelson Mandela estava à frente do Congresso Nacional Africano (CNA), sendo este o principal partido de oposição. Era final de 1959 quando eles organizaram uma conferência com o propósito de debater estratégias de enfrentamento para o ano seguinte sobre o fim do documento.
Em 1959, também houve um período em que as lutas pelo Apartheid ficaram divididas. Robert Subukwe foi responsável por liderar os conflitos da CNA e resolveu construir o Congresso Pan-Africanista (CPA). Devido a essas divergências entre as organizações, a CPA organizou manifestações antecipadas para denunciar a Lei do Passe. O que estava organizado por Mandela aconteceria apenas no dia 31 de março, já Subukwe seria no dia 21 de março.
Subukwe visava uma oportunidade de caos ao governo sul-africano. O ato deveria ser pacífico e todos os negros que participassem deveriam estar sem seus documentos. Sendo assim, muitos seriam presos, o que deixaria as prisões lotadas e geraria escassez temporária de mão-de-obra.

O massacre
Próxima a cidade de Johanesburgo, na província de Gauteng, Shaperville foi o local de protesto escolhido para a marcha. Cerca de 5 a 7 mil pessoas se reuniram em frente ao distrito policial. Lá, haviam apenas 20 soldados, o que causou um desespero diante de tanta gente. Quase 130 homens foram acionados, isso incluía tanques de guerra e motos. Em seguida, o clima piorou e até aviões caça chegaram com voos rasantes para tentar dispersar a multidão. Como o ato tinha o princípio pacífico e os manifestantes estavam desarmados, então eles lançaram pedras contra as autoridades.
Na tentativa de prender os líderes do protesto gerou caos na delegacia. Diante o tumulto, os agentes do Estado abriram fogo contra os manifestantes que corriam. Foi neste momento que 69 pessoas que foram atingidas pelos tiros morreram e outras 186 ficaram feridas. Os corpos das vítimas foram retirados com caminhões, segundo ordem do governo sul-africano e nenhum policial foi condenado ou preso. No mesmo dia, ocorreram manifestações em Langa, distrito da Cidade do Cabo, ocorrendo 3 mortes e 26 feridos.


Massacre de Shaperville – Foto: reprodução da internet


O ocorrido fez com que as autoridades proibissem qualquer organização política no país e logo em seguida fechou o CNA e CPA, além de declarar estado de emergência. A partir daí, Nelson Mandela percebeu que era quase impossível haver diálogo de forma pacífica para conquistar os direitos civis da população negra. Em 12 de junho de 1964, Mandela foi preso por ações militares. Dois anos depois, em 1966, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 21 de março como o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. Uma forma de lembrar as vítimas do massacre de Shaperville.

A luta continua
O Apartheid durou até 1994, quando pela primeira vez houve eleições multirraciais. Todos estavam autorizados a votar. Foi nesta mesma eleição que Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul. Desde então, o país é considerado livre.

Nelson Mandela – Foto retirada do site A Gazeta



A data de hoje tem servido para que o governo e diversas instituições criem iniciativas para eliminar a discriminação racial e conscientizar a sociedade. Antigamente, os negros eram vistos como inferiores tanto na força, quanto intelectualmente. Um mito que mesmo desmentido cientificamente ainda deixa sequelas para a população negra.
Não é de se espantar que pessoas negras ainda passem por situações constrangedoras até hoje. O preconceito está impregnado em nossa sociedade. No Brasil, a escravidão tem pouco mais de 130 anos e desde lá a comunidade negra luta para ter acesso aos mesmos direitos dos brancos. Embora a luta contra o racismo tenha vencido diversas barreiras, ainda há muito o que conquistar. É preciso manter-se atento e forte. Jamais desistir!

Referências

Alma Preta 1
Alma Preta 2

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