segunda-feira, 23 de março de 2020

Sojourner Truth – Não sou uma mulher?

Isabella Baumfree, mais conhecida como Sorjouner Truth, foi uma ex-escrava, abolicionista norte-americana e ativista dos direitos da mulher. Em 1851, na Convenção dos Direitos da Mulher”, proferiu o seu discurso mais famoso “Não sou uma mulher?”. Em sua frase, Truth fazia referência a intersecção entre o sufrágio feminino e o direito dos negros, tendo em vista que os dois movimentos estavam falhando em questões de gênero e raça com as mulheres negras. Até hoje, o discurso de Sojourner Truth inspira muitas mulheres negras.

Sua infância e juventude

Nascida durante o período escravocrata, em 1797, em Swartekill, Nova York, recebeu o nome de batismo de Isabella Baumfree. Era uma dos treze filhos de James e Elizabeth Baumfree, escravos do holandês Coronel Hardenberg. Após a morte do Coronel, Truth foi vendida pela primeira vez por US$ 100,00 aos 9 anos de idade incluída em um rebanho de ovelhas. Seu comprador, John Neely, residia em Kingston, Nova York. Truth passou por muitas dificuldades pelo fato de falar apenas holandês devido ao seu antigo dono, além disso sofreu com as crueldades de Neely, que a estuprou e a espancava diariamente. Truth chegou a ser vendida mais três vezes, porém conseguiu fugir de seu último captor para morar com uma família abolicionista que a ajudou pagando sua liberdade.
Antes disso, ela se apaixonou por um escravo chamado Robert que era da fazenda vizinha de seu último senhor, o John Dumont. No entanto, o senhor de Robert não aceitava o relacionamento pelo fato de não poder ter acesso aos filhos deles por Truth ser de outra propriedade e não os pertencer. Robert foi brutalmente espancado pelo seu senhor e nunca mais puderam se ver. Em seguida, ele morre em decorrência as lesões. O senhor Dumont a forçou casar-se com um escravo mais velho chamado Thomas. Sojourner Truth teve cinco filhos, sendo dois de Robert, chamados Diana (1815) e Thomas, que morreu assim que nasceu. Os outros três Peter (1821), Elizabeth (1825) e Sophia (c. 1826) eram filhos de Thomas.

Sua fuga e liberdade
Em 1826, quando fugiu levou consigo a filha caçula Sophia. Não pode levar seus outros filhos pelo fato de não puderem ser legalmente libertos enquanto não servissem como criados até completarem 20 anos de idade. A família que a acolheu com a filha, chamados Isaac e Maria Van Wagener, também a ajudaram a recuperar seu filho Peter. Ele havia sido vendido ilegalmente por Dumont a um senhor do Alabama. Sojourner entrou com um processo legal que durou meses até recuperar a guarda do seu filho de cinco anos e, assim, tornou-se a primeira mulher negra a mover não só um processo contra um branco, como também o ganhou.
Após esse período com os Van Wangeners, Truth tornou-se cristã. Em 1829, ela se muda para a cidade de Nova York onde passou a trabalhar como empregada.  Em 1839, seu filho Peter passa a trabalhar em uma baleeira chama Zona de Nantucket. Durante os anos de 1840 e 1841, três cartas são enviadas para ela, mesmo a terceira afirmando que Peter já havia enviado cinco cartas. Em 1842, a embarcação de Peter atraca de volta no porto, mas ele não estava a bordo e nunca mais sua mãe teve notícias dele.

Sojourner Truth – Foto: reprodução da internet
O nascimento de Sojourner Truth
Em 1843, ela diz que Deus a chamou para pregar a verdade e é quando passa a adotar o nome oficial de Sojourner Truth. A partir de agora, Truth é metodista e passa a viajar para pregar a abolição. Em 1850, o livro “A Narrativa de Sojourner Truth, uma Escrava Nortista” é lançado em uma edição particular. Nele, há relatos da abolicionista que eram contados a sua amiga Olive Gilbert. O lançamento ficou por conta de William Lloyd Garrison, um amigo que conheceu por volta de 1884, na Associação de Educação e Indústria em Northampton, Massachusetts, fundada por abolicionistas e que apoiava os direitos da mulher e a tolerância religiosa. Neste mesmo ano, Truth consegue comprar uma casa em Northampton e discursar na primeira Convenção Nacional dos Direitos da Mulher.
Em maio de 1851, ela profere o seu discurso mais famoso durante a Convenção dos Direitos da Mulher em Akron, Ohio. Ao longo dos anos, Sojourner Truth passou viajar, participar de convenções discursar para diversas pessoas.
Sojourner ainda chegou a participar do recrutamento de soldados negros para o Exército da União. Em 1864, trabalhou na Associação Nacional de Assistência aos Libertos, em Washington D.C., para ajudar melhorar as condições de vida dos afro-americanos. Quando trabalhou no Hospital dos Libertos, também em Washington, ela pegava transporte público para ajudar a combater a segregação racial.
Em 1870, engajou-se em um projeto onde pedia concessões de terras para ex-escravos ao governo federal, mas não obteve sucesso. Em 1872, tentou votar na eleição presidencial, mas não conseguiu. Chegou a pronunciar-se perante o Legislativo de Michigan contra a pena de morte.

Sua morte e legado
Sojourner Truth faleceu no dia 26 de novembro de 1883 em sua casa de Battle Creek, Michigan. Seu legado deixou críticas as vivências das mulheres brancas a excluíam do movimento feminista tendo em vista sua classe social e raça. Assim como Audre Lorde, Truth já fazia esse recorte. Mulheres eram vistas como fracas diante dos homens, mas isso apenas quando se tratava de mulheres brancas, tendo as ideias de feminilidade e pureza reservadas para elas.
“Aquele homem ali diz que as mulheres precisam ser ajudadas em carruagens, erguidas sobre valas e ter o melhor lugar em todo lugar. Ninguém me ajuda em carruagens, ou em poças de lama, ou me dá o melhor lugar! E eu não sou mulher? Olhe para mim! Olhe meu braço! Eu arei e plantei, e juntei a colheita nos celeiros, e homem algum poderia estar à minha frente.”
Ao movimento abolicionista, as críticas se referiam a exclusividade dos direitos dos homens negros.
“Daí aquele homenzinho de preto ali disse que a mulher não pode ter os mesmos direitos que o homem porque Cristo não era uma mulher! De onde o seu Cristo veio? De onde o seu Cristo veio? De Deus e de uma mulher! O homem não teve nada a ver com isso.”
O historiador Nell Painter diz que os discursos de Truth eram fortes porque na época “a maioria dos americanos considerava escravos como homens e mulheres como brancas” e que ela “materializou um fato que ainda vale a pena repetir: entre negros há mulheres; entre mulheres, há negras”.
Seu discurso inspirou muitas mulheres. bell hooks, por exemplo, intitulou um de seus livros com a frase “E eu não sou mulher?”. A acadêmica jurídica Kimberlé Crenshaw faz a seguinte observação entre o sufrágio feminino e o movimento feminista moderno: “Quando a teoria feminista e a política, que alegam refletir as experiências das mulheres e as aspirações das mulheres, não incluir ou falar com mulheres negras, mulheres negras devem perguntar: “Não somos mulheres?”.
Truth percebeu a exclusão das mulheres negras em meio ao movimento feminista que negava as suas vivências em uma sociedade preconceituosa e racista. A sua experiência não tinha visibilidade para as mulheres brancas, ricas e que viviam à frente da sua realidade opressora.
“Se a primeira mulher que Deus criou foi suficientemente forte para, sozinha, virar o mundo de cabeça para baixo, então todas as mulheres, juntas, conseguirão mudar a situação e pôr novamente o mundo de cabeça para cima! E agora elas estão pedindo para fazer isto. É melhor que os homens não se metam.”
O tempo prova que há muito sempre foram as mulheres negras por elas mesmas e que a igualdade nunca estará equiparada quando influenciada por raça ou classe.

Referências
Medium
Geledés


No mês das mulheres, todas as camisetas femininas estarão com 20% de desconto. Vista-se com inspiração e poder negro feminino. Vista-se de Negroblue!




Nenhum comentário:

Postar um comentário