quinta-feira, 14 de novembro de 2019

A Literatura Afro-brasileira como enfrentamento para o preconceito e racismo


A leitura, sem dúvidas, é uma das melhores formas de enfrentar o preconceito e criar senso crítico para entender os diversos atos de racismo e discriminação racial. O problema está quando nos é negado o direito a conhecer e refletir sobre a nossa própria identidade e cultura afro-brasileira.
Quando falamos em “clássicos” da literatura, muitos esquecem que esses tais “clássicos” fazem parte de uma literatura hegemônica onde temos escritores brancos, personagens brancos, sendo escritos para pessoas brancas. Levando em consideração que a literatura é essencial para formação do seu povo, a ausência de escritores e contos afro-brasileiros é lamentável.
Essa problemática persiste há anos, apagando e negligenciando um grupo e privilegiando outro. A herança escravocrata tenta apagar até a identidade de grandes nomes da literatura brasileira, como por exemplo Machado de Assis, que por bastante tempo foi retratado como um homem branco. Inclusive, falamos sobre sua história aqui no blog.
Os povos não europeus sempre foram invisibilizados quando o assunto é história da literatura, seja na participação de escritos ou protagonismo nas histórias, assim colocando-os como subalternos. É como se apenas escritos europeus tenham qualidade e, por isso, devam ser estudados.
Os quatro primeiros séculos tinham como objetivo valorizar a estrutura e ideologia lusa (portuguesa). Essa dominação política e econômica também incluía a literatura, que por sua vez obedecia os padrões da elite, caso contrário essas obras eram desqualificadas. Depois da abolição e república, tivemos mudanças sociais. Essas mudanças trouxeram escritores que utilizaram suas obras para se posicionarem contra o racismo e discriminação sofrida pelos negros. A partir daí, nasce uma literatura voltada para o povo negro.
Alguns autores que transgrediram essa ideologia lusa foram Lima Barreto, Luiz Gama, Cruz e Souza, entre outros. A literatura negra ajudou a trazer informações para a história e cultura nacional sobre a suas origens e cultura africana.

Lima Barreto

As nossas escolas, infelizmente, também possuem um padrão: o branco. Embora tenhamos conquistado através da lei 10.639/03 para aplicação da Literatura Afro-brasileira em sala de aula, ainda é difícil que alguns professores cumpram seus papéis de mediadores na busca de conhecimento para disseminar história e cultura dos povos afro-brasileiros.
Obras como “A escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães, “Iracema”, de Jorge de Alencar, “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo e tantas outras são exemplos de construções racistas e perpetuam, como falamos anteriormente, como grandes “clássicos”. Monteiro Lobato é outro escritor bastante exaltado na literatura, mas que possui diversos casos racistas em suas obras utilizando personagens negros de forma pejorativa. Além do mais, ele foi um grande entusiasta do projeto eugenista no Brasil, que tinha por objetivo embranquecer a população.


Foto retirada do site Traduzca
Estamos dizendo que essa literatura deve deixar de ser lida? Não, não é isto. Mas é preciso atentar-se que é errado não admitir o racismo que existe em diversas obras lidas por milhares de crianças e adolescentes pelo país afora. Não podemos continuar naturalizando a estigmatização de pessoas negras. Precisamos orientar esses jovens a compreenderem a complexidade e criarem senso crítico quanto ao racismo estrutural no qual o país se encontra. Tais esteriótipos trazem sofrimento e mexem com a autoestima da população negra.
Podemos oferecer, por exemplo, literatura indígena escrita pelo próprio povo indígena. Literatura afro-brasileira escrita por grandes escritores negros como Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Abdias Nascimento, Clóvis Moura, Maria Firmina dos Reis, Lino Guedes, Solano Trindade, Lima Barreto, entre outros. O mercado editorial negro precisa ganhar espaço e ser visto de forma tão excelente quanto o padrão literário branco.

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