A leitura, sem dúvidas, é uma das melhores
formas de enfrentar o preconceito e criar senso crítico para
entender os diversos atos de racismo e discriminação racial. O problema está
quando nos é negado o direito a conhecer e refletir sobre a nossa própria
identidade e cultura afro-brasileira.
Quando falamos em “clássicos” da
literatura, muitos esquecem que esses tais “clássicos” fazem parte de uma
literatura hegemônica onde temos escritores brancos, personagens brancos, sendo
escritos para pessoas brancas. Levando em consideração que a literatura é
essencial para formação do seu povo, a ausência de escritores e contos
afro-brasileiros é lamentável.
Essa problemática persiste há anos,
apagando e negligenciando um grupo e privilegiando outro. A herança escravocrata
tenta apagar até a identidade de grandes nomes da literatura brasileira, como por exemplo Machado de Assis, que por bastante
tempo foi retratado como um homem branco. Inclusive, falamos sobre sua história
aqui no blog.
Os povos não europeus sempre foram
invisibilizados quando o assunto é história da literatura, seja na participação
de escritos ou protagonismo nas histórias, assim colocando-os como subalternos.
É como se apenas escritos europeus tenham qualidade e, por isso, devam ser
estudados.
Os quatro primeiros séculos tinham como
objetivo valorizar a estrutura e ideologia lusa (portuguesa). Essa dominação
política e econômica também incluía a literatura, que por sua vez obedecia os
padrões da elite, caso contrário essas obras eram desqualificadas. Depois da
abolição e república, tivemos mudanças sociais. Essas mudanças trouxeram
escritores que utilizaram suas obras para se posicionarem contra o racismo e
discriminação sofrida pelos negros. A
partir daí, nasce uma literatura voltada para o povo negro.
Alguns autores que transgrediram essa
ideologia lusa foram Lima Barreto, Luiz Gama, Cruz e Souza, entre outros. A
literatura negra ajudou a trazer informações para a história e cultura nacional
sobre a suas origens e cultura africana.
Lima Barreto |
As nossas escolas, infelizmente, também possuem um padrão: o branco. Embora tenhamos conquistado através da lei 10.639/03 para aplicação da Literatura Afro-brasileira em sala de aula, ainda é difícil que alguns professores cumpram seus papéis de mediadores na busca de conhecimento para disseminar história e cultura dos povos afro-brasileiros.
Obras como “A escrava Isaura”, de Bernardo
Guimarães, “Iracema”, de Jorge de Alencar, “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo e
tantas outras são exemplos de construções racistas e perpetuam, como falamos
anteriormente, como grandes “clássicos”. Monteiro Lobato é outro escritor
bastante exaltado na literatura, mas que possui diversos casos racistas em suas
obras utilizando personagens negros de forma pejorativa. Além do mais, ele foi
um grande entusiasta do projeto eugenista no Brasil, que tinha por objetivo
embranquecer a população.
Foto retirada do site Traduzca
|
Podemos oferecer, por exemplo, literatura
indígena escrita pelo próprio povo indígena. Literatura afro-brasileira escrita
por grandes escritores negros como Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus,
Abdias Nascimento, Clóvis Moura, Maria Firmina dos Reis, Lino Guedes, Solano
Trindade, Lima Barreto, entre outros. O mercado editorial negro precisa ganhar
espaço e ser visto de forma tão excelente quanto o padrão literário branco.
Referências
Recanto das Letras
Revista Capitolina
Carta Capital
Recanto das Letras
Revista Capitolina
Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário