Muitas pessoas negras tiveram a
experiência de passar por uma infância e adolescência sendo invisíveis. Como é
possível trabalhar a autoestima do negro em uma sociedade em que ele não se
enxerga? O padrão eurocêntrico sempre foi uma barreira para a exaltação da
beleza negra.
O negro foi colocado em um abismo social
onde nem mesmo era possível assumir seu nome, pois foi muito do que aconteceu
quando os primeiro escravos africanos foram trazidos à força para o Brasil. Longe
de casa, separados de suas famílias, proibidos de cultuar suas religiões, de
vestir suas roupas, a identidade do povo negro foi roubada.
Devido a essa triste parte da história do
negro no Brasil Colônia, diversas gerações cresceram sem conhecer sua própria
história. Além disso, a estética do negro sempre foi ridicularizada. Falamos,
inclusive, sobre a prática do “black face” em nosso blog, sobre como ela
tinha por objetivo ridicularizar, humilhar e infantilizar a imagem do negro.
Era comum que durante a infância muitas
crianças negras recebessem apelidos pejorativos e que ferissem sua autoestima,
como por exemplo “cabelo de Bombril”, “cabelo ruim”, “nariz de batata”,
“beiçudo”, “pele de piche” e tantos outros.
Fomos convencidos a um padrão de beleza
que nunca poderíamos alcançar. Em entrevista ao site
Huffpost, a empresária Rosangela da Silva, que desenvolve maquiagem
e produtos para cabelos de mulheres negras, contou sobre um episódio: "Uma
vez eu conversei com uma senhora que disse que não usava batom vermelho porque
chamavam ela de 'nega maluca' quando ela usava. O batom vermelho remete a uma
chacota, remete a uma representação racista e a gente se afasta dele, diz que
só usa batom nude. [Diz que] 'eu tenho a boca grande'. E qual o problema de
usar batom vermelho e ter a boca grande? Dizem que o colorido é coisa de preto,
e que coisa de preto é ruim. Você começa a entrar num padrão para ser aceita ou
passar despercebida".
Durante a década de 1960, o partido dos
Panteras Negras foi um dos responsáveis pelo empoderamento da beleza negra:
ostentavam seus cabelos afros, boinas e jaquetas de couro. Kathleen
Cleaver, uma das líderes do partido fala sobre a importância da valorização da
beleza negra.
Não só o partido dos Panteras Negras, mas
diversos movimentos negros levantam a bandeira do empoderamento da beleza
negra. Felizmente, nos últimos anos temos visto o quão importante tem sido essa
propagação de valores para alcançar uma população que sempre foi marginalizada e
invisível.
Crianças, homens e mulheres assumindo seus
cabelos e estilos. Como disse Rincon Sapiência: negros e negras estão se amando. E muito! O afeto negro e conhecimento sobre a sua própria cultura têm
tido papéis importantes na construção de uma nova comunidade: fortalecimento e
amor próprio. Que possamos seguir cada vez mais fortes!
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