sexta-feira, 10 de abril de 2020

Os reflexos da crise do Covid-19 na população negra

Desde o surgimento do coronavírus (Covid-19), que causa infecções respiratórias, o mundo entrou em colapso. Mais de 1 milhão de pessoas em 190 países foram diagnosticadas com o vírus, 200 mil estão curadas. Todo esse caos tem tido impacto nos setores econômicos a nível mundial. No Brasil, números apontam que os mais atingidos pelo desemprego diante da crise do Covid-19 são os negros e pobres.
O vírus teve início em dezembro, na China. De acordo com um balanço feito pela AFP, uma agência de notícias francesa, são pelo menos 65.272 mortes em todo o mundo. No momento, os países mais afetados são Itália, Espanha, Estados Unidos, França e Reino Unido.
No Brasil, até o dia 5 de abril foram contabilizados 11.130 casos e 486 óbitos, segundo o Ministério da Saúde. Diante da crise causada pelo Covid-19, os trabalhadores brasileiros têm sofrido para manter sua renda mensal e garantir o sustento familiar. O Ministério da Economia avalia que cerca de 3,2 milhões de trabalhadores formais, aqueles que possuem carteira assinada, provavelmente irão perder seus empregos. Além disso, trabalhadores informais têm sentido os efeitos devido ao isolamento social por dependerem de comércios de serviços não essenciais.

Comércio ao ar livre - Foto: reprodução da internet



As autoridades de saúde recomendam o isolamento social como uma das principais formas de diminuir a disseminação da doença. Sendo assim, quanto menos pessoas circularem em lugares públicos, menos infectados teremos. No entanto, a medida tem gerado um grande aumento de desemprego. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tinha até fevereiro 12,4 milhões de desempregados.
No site Alma Preta, a executiva de Recursos Humanos e também fundadora da consultoria EmpregueAfro, Patrícia Santos, fala os motivos que levam os profissionais negros serem os mais prejudicados pelo Covid-19. “O país começou o ano com uma boa perspectiva de crescimento econômico e de criação de postos de trabalho, mas o coronavírus jogou um ‘balde de água fria’. A maioria das pessoas atingidas pelo desemprego serão os trabalhadores negros, grupo majoritário em cargos operacionais de bares e restaurantes, eventos, turismo, entre outros”, pontua.
A população preta do país recebe menos que os brancos e ocupa os setores econômicos de remuneração mais baixa. Muitas dessas pessoas fazem parte dos que ocupam trabalhos informais e dependem do movimento das ruas para garantir sua renda.


Foto: reprodução da internet


“Eu tenho conversado com alguns especialistas que acham que o desemprego vai aumentar porque a reação do mercado após o isolamento social não será imediata. O mercado deve reagir em setembro ou outubro, a caminho do fim do ano. Outros especialistas avaliam que o desemprego deve crescer em razão de existirem empresas que não vão conseguir permanecer abertas para atender baixas demandas. Tudo está ligado ao período que o isolamento vai durar”, afirma Patrícia Santos.
Além do desemprego, os negros fazem parte das populações mais vulneráveis, vivendo em favelas, cortiços ou palafitas. Em muitas dessas situações, essas pessoas não possuem direito ao básico, como água potável, por exemplo. Manter-se higienizado durante uma epidemia é uma tarefa difícil, tendo em vista que o próprio Estado é ausente em seus deveres. Inclusive, comentamos sobre essa ausência em outro post do nosso blog.
Há 40,7% da população brasileira ocupando trabalhos informais. Trabalhadores autônomos, sejam os que possuem comércio ou realizam atendimento por conta própria, como entregadores, motoristas ou diaristas, por exemplo, estão em uma situação em que ou se arriscam trabalhando, ou ficam sem sua renda mensal para o sustento.
Segundo o site Hypeness, embora 51% dos empresários sejam afro-brasileiros, brancos são os que garantem maior faturamento entre R$ 60 e R$ 320 mil mensais. Apenas 1% dos negros chegam a esse faturamento, enquanto os outros 60% não possuem lucro. O reflexo das desigualdades no mercado de trabalho reflete nas condições de moradia, de vida e de saúde.   
“No Brasil, o enfrentamento à pandemia da Covid-19 tem revelado não somente a insuficiência do nosso sistema de saúde, aliás condição comum a muitos sistemas de saúde do mundo frente a uma pandemia, mas também a desigualdade social oriunda da alta concentração de renda e do racismo nas suas mais variadas formas, que fazem com que o nascer, viver, adoecer e morrer da população negra sejam mediados por condições de miserabilidade, de privação de direitos, de moradia e de emprego formal”, afirma Edna Araújo, Epidemiologista e uma das coordenadoras do GT Racismo e Saúde da Abrasco e docente da Universidade Estadual de Feira de Santana (EUFS) para o site Abrasco.

Referência
Ministério da Saúde 1
Ministério da Saúde 2
Hypeness 1
Hypeness 2
Alma Preta
O Globo
Abrasco

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